Coronel Dax (Douglas) e a difícil tarefa de levar seus homens vivos para casa |
Tudo começa pela vaidade e orgulho de quem começa a querer mais do que tem. Cobiça, ganância e, no caso da Segunda Guerra, preconceito e racismo, levaram uma nação a achar que podiam (melhor, deviam) reorganizar o mundo. Daí vieram os que tentaram argumentar, e não foram ouvidos. Parte-se, então, para a briga. No caso, uma guerra mundial. Então começam as outras vaidades: quem entra pra briga, não quer saber de perder. Seja uma batalha, o prestígio, o que quer que seja. E por orgulho, para que seus generais pudessem "ganhar uma estrelinha da tia", o Coronel Dax (Kirk Douglas, espetacular) é obrigado a levar seu regimento a uma missão suicida. A frente inimiga estava bem solidificada e havia poucos homens para tentar o assalto e manter a nova posição. Ainda assim, ele lidera o ataque e boa parte de seus homens morrem. Outra parte, que estava sob o comando de outro capitão (um tremendo covarde, que já havia provado sua covardia ao não assumir a responsabilidade pela morte de um soldado em uma missão anterior fracassada por sua precipitação) não avançou. O superior que ali estava para comandar a missão ordena então que se atire nas próprias fileiras para que eles marchem para a morte ou morram sob os tiros de seus próprios companheiros.
Quando sua ordem não é acatada pelo responsável pela retaguarda, o capitão cancela o ataque e leva o caso à corte marcial. Às pressas, ele pretende encontrar culpados para o fracasso de uma operação designada a ele e que o promoveria. Sobra para o coronel Dax escolher entre seus homens quem será morto. Sim, porque a corte foi mera formalidade - uma vez que não acataram a ordem, então todos deveriam morrer. Não importa se o instinto humano de sobrevivência tenha gritado, o que importa é a insolência e insubordinação. Plenamente puníveis com a morte. Querendo desmoralizar e acabar com a sombra de uma derrota em seu currículo, por ele todo o regimento 701 seria fuzilado. Em vez disso, o coronel Dax consegue que apenas um de cada pelotão fosse a julgamento, acreditando ser possível salvá-los. Não consegue, e então ele vê seus homens morrerem: os escolhidos são um desafeto de um capitão e outros dois sorteados aleatoriamente. O quão banal é a vida de um ser humano, não é?
Uma crítica ácida e ferrenha à guerra, onde os contrastes de ambiente são gritantes (as condições de vida dos grandes oficiais e as trincheiras são dois lados de uma mesma moeda) e as vidas dos subalternos não interessam às políticas são reforçadas pela dramaticidade e inteligência da fotografia e dos planos escolhidos pelo diretor. As brilhantes atuações de todo o elenco, com destaque para Kirk Douglas em seu atordoado e impotente papel de um coronel que precisa obedecer e que ainda tem um pouco de humanidade e juízo, são outro ponto forte do filme. A direção de Kubrick, segura e sem medo de expor a soberba, arrogância e as terríveis consequências dos egos inflados colocam sal na ferida. O tocante final, em que o coronel vê seus homens se divertindo antes da próxima batalha, com aquela expressão de "deixe que se divirtam, amanhã estarão todos mortos - de um jeito ou de outro" é emblemática. Um dos melhores filmes de guerra a que já tive o prazer de assistir.
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