Quando descobri que As brumas de Avalon foi criado originalmente como minissérie para a televisão, tudo começou a fazer sentido. Então estavam justificadas as inexplicáveis três horas de duração e as cenas nem tão relevantes que poderiam ser eliminadas para dar mais ritmo à história. Mas a tarefa do diretor Uli Edel não era, justamente, caprichar na edição para tornar o longa-metragem mais atraente para o espectador? Era. E isso não aconteceu.
Em relação à lenda do Rei Arthur, é interessante acompanhá-la por outra perspectiva, já que a protagonista e narradora do filme, assim como nos livros de Marion Zimmer Bradley, é Morgana (Julianna Margulies). Mas o mais curioso é como a consagrada mitologia dos contos é bastante alterada: a famosa feiticeira agora é uma sacerdotisa, e é totalmente bem intencionada, exatamente o oposto da antagonista que a gente amava temer e odiar. Vilã mesmo é sua tia, Morgause (Joan Allen), que também tem poderes sobrenaturais e ambiciona o lugar no trono para seu filho.
A célebre traição de Lancelot (Michael Vartan) e Guinevere (Samantha Mathis) agora não mais acontece, já que o monarca dá sua "permissão" para o envolvimento entre os dois, de olho num herdeiro. Dizem que no livro há uma homossexualidade sugerida entre o cavaleiro e seu rei, mas no longa fica tudo mal explicado e bem forçado. Enquanto isso, o verdadeiro sucessor de Camelot cresce longe dali: Mordred (Hans Matheson), filho de Arthur e Morgana, concebido sem o conhecimento de ambos, graças a uma armação de Viviane (Anjelica Huston), a toda poderosa grã-sacerdotisa de Avalon.
Mas por que uma mãe abandonaria seu filho daquela maneira? Por que ele nunca questionou sua ausência? Ela nunca escreveu uma cartinha, mandou sinal de fumaça? E suas visões, que manifestava desde criança, não lhe mostraram que uma tragédia estava prestes a acontecer? São muitas perguntas sem resposta. E também são muitas situações convenientes, como o grande mal entendido que terminou no casamento da sacerdotisa, e a levou para Gales do Norte. Mordred, por sua vez, é avisado de sua nobre ascendência no exato momento em que os saxões voltam a invadir a Bretanha. Numa narrativa que se preocupa em justificar os mínimos detalhes de tudo, faltou cuidado na hora de resolver certas questões.
As boas atuações do elenco são um dos grandes trunfos da produção, mas faltou carisma para os personagens e até um pouco de ação. Para se ter uma ideia, os cavaleiros da Távola Redonda, meros coadjuvantes, só pegam na espada bem próximo ao fim do filme. Por privilegiar suas personagens femininas e o misticismo em torno da Deusa, divindade pagã que disputava a preferência dos bretões com o Deus cristão, essa opção é compreensível. Mas, nesse caso, faltou um pouco mais de magia - a própria Morgana é bem menos poderosa do que a fama que conquistou indicava. Nesse ritmo, para ser protagonista, ela ainda precisa comer muito feijão com arroz.
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