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Os marcianos chegaram. E daí?


Podem dizer o que quiser, mas A guerra dos mundos (1953) tem uma grande qualidade: despertou em mim a vontade urgente de ler o livro de H. G. Wells. Porque não é possível um clássico como esse ganhar uma adaptação tão pobrezinha para o cinema. E nem estou me referindo aos toscos efeitos especiais, que não sou tão insensível assim. Se o visual do filme hoje é risível, com suas maquetes óbvias e tentáculos alienígenas de cabo de aspirador de pó, outras produções da época também o são. O que me choca é o fato de o longa de Byron Haskin, em nenhum momento, me convencer de que a Terra estava realmente em perigo. 

Preste atenção, sobretudo, aos coadjuvantes. Repare no momento exato em que as pessoas começam a sentir medo, pânico, desespero. A hora em que o caos se instala, e a estupidez humana transforma todos em animais incapazes de perceber que todos estão no mesmo barco. Já é quase o final do filme, e é só então que a história começa realmente a empolgar (detalhe para a cena do protagonista correndo em meio às ruas vazias, no estilo pré-Eu sou a lenda). Até então, todos passeiam pelas ruas tranquilamente, sem se importar com um grande incêndio que atinge a cidade ou com a presença do exército nas ruas. Nem mesmo a ideia de evacuar o local impede que as crianças continuem brincando. Aí você pode dizer que a culpa de tudo isso é do governo, que escondeu a presença de marcianos entre nós e mentiu para a população. Ok, é um bom argumento. Mas cadê isso explorado no filme?


A guerra busca, o tempo todo, transformar o cientista Clayton Forrester (Gene Barry) em herói. Mas o especialista acaba não tendo muita serventia, a não ser conter os ataques histéricos de Sylvia (Ann Robinson), cuja presença no meio de militares durante ações estratégicas é absolutamente inexplicada. Os seres extraterrestres, por sua vez, mostram pouquíssima inteligência ao escolher seus alvos e deixam suas vítimas escaparem com uma facilidade impressionante. Mas descobrimos que, dessa maneira aparentemente pouco organizada, elas planejam tomar toda a Terra e destruí-la. E aí vem a outra pergunta de um milhão de dólares: se eles só queriam um lugar para se instalar, já que seu lar estava ficando inabitável, por que simplesmente destruir o que os humanos haviam construído? Não seria mais inteligente aproveitar qualquer criação utilizável?

Para completar a lista de fatores que tornam o filme tão inverossímil está o desempenho do elenco. Barry, preocupado em fazer um cientista sexy, exagera nas caretas. A impagável cena em que Sylvia não reconhece Forrester porque este usava óculos (diferentemente de como aparecia na capa da revista) resume tudo: cheio de "charme", ele tira o acessório e declara "É que eu uso óculos para enxergar de longe, de perto não preciso". Ok, o texto não ajudou, mas precisava da canastrice também? Já a personagem de Ann é tão dispensável e irritante que a torcida é para os alienígenas a levarem para bem longe. Aliás, vale uma observação: não importa se a Terra estava à beira da extinção, se ela passou por um acidente ou quase foi morta por um ET, sua roupa permanecia sempre limpa e sem amarrotar, e seu cabelo estava sempre impecável. Seria esse o segredo que nossos amigos, digo, inimigos, queriam descobrir por aqui? O mistério permanece. As razões para essa produção rezar pela cartilha dos filmes B em vez de seguir alguns preceitos básicos da ficção científica da época, também.

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