...Tudo tem a perder. Vaidade e beleza (Becky Sharp, 1935) é um filme interessante. Baseado no livro Feira de Vaidades, conta a história de duas garotas que estudam juntas em uma escola para moças, porém uma é de família rica e a outra é pobre. Amelia Sedley (Frances Dee) é a moça rica, que acaba por levar a amiga Rebecca Sharp (Miriam Hopkins, maravilhosa) para viver com ela. Esse é seu maior erro. Becky é a ambição em pessoa, e recusa-se a passar o resto da vida como a mãe, uma atriz que não ficou famosa e morreu na miséria. Becky quer que ua vida seja diferente, e não medirá esforços para conseguir - nem que isso leve à ruína as pessoas mais próximas.
Becky é uma moça voluntariosa, e faz tudo para sobreviver. Nem que isso seja envolver todos aqueles que lhe ofereceram a mão algum dia. Becky não ama ninguém, ela só ama a própria vida. Então ela aproveita-se de sua beleza para seduzir jovens oficiais com futuro promissor, ou ricos senhores que poderiam lhe oferecer fortuna, uma lindo teto, vestidos maravilhosos e a mantivesse longe de uma vida miserável - principalmente àquela da qual fugira. Era filha de uma atriz, e sua mãe sofrera abusos quando mais nova. Ela não queria isso para si, e faria o que fosse necessário para não ter que passar pelo mesmo. Para isso ela vai enrolando todos, e acaba por se enrolar também. Quando passada a batalha e suas artimanhas descobertas, ela foi obrigada a voltar a atuar, e não foi lá tão bem sucedida. Mas nem na pindaíba ela deixa de tentar, não desiste de conseguir casar-se com um homem rico que a sustente.
O filme é curioso por ser o primeiro filmado completamente em Technicolor. Era a grande sensação, um filme colorido, a maior revolução do cinema após a introdução do som. É engraçado percebemos o quanto somos acostumados a ver as cores hoje no cinema, pois a riqueza de tons que vemos não era possível ser captada na época. Os filmes eram sensíveis às cores vermelho, verde e azul (RGB, sigla para red, green e blue) e o alcance de tonalidades não era muito grande. Então temos cenários que querem fugir do preto e do branco, e acabam por ser basicamente todos azuis. Os verdes são os tons mais difíceis de se encontrar, parecendo quase cinzas. As cores mais fortemente registradas são os tons mais fortes de azul e vermelho - ótimas para uma história passada à época da batalha de Waterloo, em que os uniformes dos oficiais eram vermelhos. Os cabelos de Becky, loiros (em cor, amarelos), parecem ser brancos a maior parte do tempo. Alguns recursos de fotografia em preto e branco são usados ainda, como as interessantes sombras nas cortinas e o Napoleão ameaçador sobre o mapa.
O que nos lembra o quão importante é a fotografia de um filme - na cena do baile, por exemplo, é uma cena intensa. Em um grande salão azul, com oficiais vestidos de vermelho, e Becky e as outras mulheres vestidas em azul e vermelho em tons duramente diferenciáveis, a batalha chega como uma tempestade. As luzes se apagam, o vento traz o desespero e o vermelho dos vestidos transforma-se em um mar de oficiais cavalgando pela batalha. Miriam Hopkins é extraordinária como a cínica e volúvel Becky, capaz de arroubos de alegria, descaramento, dor e dissimulação. É adorável, jovial e arisca, como a personagem deve ser. A cena em que Becky tenta arrumar um emprego como babá de cinco pestinhas é hilária, e ao brilhantismo da atuação de Hopkins pode ser avaliado na sequencia em que ela conta a tragédia de sua vida - ela chora e faz drama para não ser despejada da casa, mas sai saltitando ao ver que comoveu a severa dona da casa.O filme é bacana, embora uma cópia remasterizada, valorizando as outras cores, deva ser mais bacana de ver (apesar da produção de arte não ser lá essas coisas -cenários bem amplos e quase vazios, como em uma peça de teatro); os figurinos são bem bonitos e, acrescentadas as cores que faltam, farão um bom espetáculo visual. Boa curiosidade, uma surpresa bacana nesse ano.
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