Romeu (Di Caprio) e Julieta (Danes): protagonistas da maior tragédia romântica já escrita |
Sempre que (re)vejo esse filme, Romeu+Julieta (Romeu+Julieta, 1996) eu fico abismada com várias coisas. Primeira, como é trágica a história do bardo; segundo, como esse filme é esteticamente perfeito; terceiro, que trilha sonora!; quarto, e não é que misturar a linguagem rebuscada da Inglaterra da era vitoriana funcionou na ensolarada praia de Miami; e, por último, mas o mais impactante: apesar de ser muito novo à época, essa é (pra mim) a melhor atuação do Di Caprio até hoje.
A história, talvez a mais famosa do universo, é conhecida - de um jeito ou de outro - por todo mundo: Romeu Montéquio (Leonardo Di Caprio) é o filho único da família Montéquio. Seu pai amargava um ódio eterno dos Capuleto, a família rival que tinha também uma única herdeira: a angelical Julieta (Claire Danes). E, por razões que só o destino (e Shakespeare) poderia explicar, ambos se apaixonam de forma tão arrebatadora que o rapazote esquece-se completamente de Rosalinda,a verdadeira razão por ele ter infringido as regras do bom senso e ter se infiltrado no baile de máscaras dos Capuleto. Com os homens de seu pai e seu primo Mercúcio (Harold Perrineau Jr., excelente), eles foram lá fazer uma farra, mas ninguém esperava que os filhos das famílias antagonistas iriam se conhecer e apaixonar. Com juras de amor eterno e beijos apaixonados, ficou decidido que eles iriam se casar, apesar das diferenças e do ódio entre as famílias. Então eles recorrem ao padre Lourenço (Pete Postlethwaite) para que os case em segredo. Pensando que isso ajudaria a dar um fim à terrível briga, ele aceita e os casa.
Porém Tebaldo (John Leguizamo), primo de Julieta, não consegue esquecer que Montéquios invadiram a mansão Capuleto para farrear, e vai atrás de um ajuste de contas. Encontra os amigos de Romeu com Mercúcio e, em um duelo, acaba por matá-lo. Cheio de pesar e ódio, Romeu persegue Tebaldo e o mata também. Ambas famílias haviam sido avisadas pelo capitão da polícia Prince (Vondie Curtis-Hal) de que não haveria mais baderna na cidade por conta da rixa entre eles; com as mortes de Mercúcio e Tebaldo, Romeu é punido com o exílio. Se voltar a aparecer na cidade, será preso. Para solucionar o desespero dos jovens, o padre resolve ajudar o casal: manda Romeu para a cidade vizinha e pede que ele aguarde o seu aviso, enquanto ele se encarrega de dar a Julieta um poderoso sonífero, que a fará parecer morta (e depois acordar como se nada tivesse acontecido, quando já estivesse com Romeu) e impedir que Julieta seja casada à força com Paris (Paul Rudd, fofo como sempre mesmo em participação tão pequena).
Mercúcio (Perrineau Jr.) e Romeu (Di Caprio) no duelo com Tebaldo: armas no lugar de espadas |
Seria perfeito, mas a gente sabe que a história acaba mal. Sem receber o aviso do padre, que ficou de lhe explicar sobre o plano de fuga de Julieta, chega aos ouvidos de Romeu a notícia da morte de sua amada. Desesperado, cego de dor e sem ver como a vida poderia continuar sem seu amor, Romeu resolve voltar à Verona e morrer ao lado da amada. Então ele tira a própria vida tomando um veneno, o mais forte de todos. Julieta acorda de seu sono e encontra o amado morto, então decide tirar a própria vida - pois sem ele, nada mais valia a pena. E assim termina a tragédia romântica mais famosa de todos os tempos.
Procurei traçar em linhas gerais como é a história, pois foi assim que Luhrman adaptou a Verona européia e medieval para uma ensolarada praia de Miami, tão americana e no estilo dos anos 1990. As cores fortes, o ritmo acelerado, as drogas e armas de fogo (lindamente batizadas de 'espadas'), a rixa entre famílias soando como guerra entre gangues... Ver o texto original, em inglês arcaico (juro que me emocionei com o "I love thee" gravado na aliança) em meio ao caos de cores e tiros me impactou de forma extremamente positiva. Acredito que os mais puritanos devem odiar esse filme, mas eu achei uma versão ousada e uma homenagem digna ao grande clássico. A trilha sonora é espetacular, o ritmo alucinado das cenas, as cores fortes, as atuações brilhantes dos personagens principais também reforçam meu elogio. Aliás, devo dizer que os melhores em cena são justamente Perrineau Jr e Di Caprio. Mercúcio não é um personagem fácil, ele tem amor pelo primo e pela família; se tivesse sabido antes que Romeu estava casado com Julieta não confrontaria Tebaldo por saber a dor que causaria a seu primo. A morte no duelo com Tebaldo é das mais trágicas e lindas, um show de emoção dos três principais envolvidos. Quanto a Di Caprio, sempre vou às lágrimas com ele nesse filme. É incrível como ele se entregou: mesmo tão jovem à época, ele faz o Romeu olhar com tanta devoção à sua amada que chega a ser quase sufocante. Quando ele recebe a notícia de sua amada morta, a dor que ele exprime no grito é dilacerante. Na cena da morte, em que Julieta acorda poucos segundo depois de ele ter ingerido o veneno (diferente da versão anterior, em que ela corda quando ele já está morto há algum tempo), dá vontade de torcer pra que ele não tome o veneno, que ele não morra, que Julieta abra logo a porcaria dos olhos e diga qualquer coisa antes de ele abrir o vidrinho!
Leonardo Di Caprio nunca atuou tão visceralmente como nesse filme |
Mas não dá né? Várias concessões à adaptação da obra são aceitáveis, mas daí a dar um happy end, já é outra coisa. Achei as decisões de Luhrman acertadíssimas, e vendo o filme hoje, dá pra ver ali um mini-protótipo de Moulin Rouge sendo rodado. Romeu+Julieta é uma ótima versão da tragédia (vista como romance) mais linda de todos os tempos e um dos meus filmes mais queridos - mas que eu tenho que ver com moderação porque senão o coração não aguenta.
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