Acho que, se existisse uma Holly Golightly, eu não gostaria dela. Infantilóide, deslumbrada, irresponsável, fútil, ambiciosa, a aparentemente ingênua garota de programa que resolveu ganhar a vida em Nova York chega a ser irritante em certos momentos. O fato é que em Bonequinha de luxo Audrey Hepburn consegue transformá-la em alguém adorável. Coisas que só uma diva consegue fazer.
A começar pelo visual, que ficou imortalizado no imaginário coletivo como sinônimo de glamour: o tubinho preto, os óculos escuros, o impecável coque, as luvas... Mas de pijama ou até de toalha na cabeça e moletom, Audrey é chique. Impossível disassociar as duas coisas. Mas sua doçura e seu ar espevitado também são perfeitos para o papel. Sua quase obsessão com a Tiffany's, o lugar onde nada ruim pode acontecer, chega a ser divertida e diz muito da personalidade de Holly. Por mais que ela seja uma garota caipira que tenha saído de casa muito cedo, tenha visto o irmão se alistar no exército e ter encontrado uma família, ela prefere dar as costas para a realidade ("Eu não sou mais Lula Mae") e viver num mundo de fantasia.
No fundo, ela continua sendo aquela criança do interior que roubava doces. Não dá pra não simpatizar com isso. Nem de achar graça que ela realmente tenha acreditado que um grande mafioso a havia contratado para conversar semanalmente e lhe desse "a previsão do tempo" em algum lugar. Talvez nem a criança do interior que roubava doces acreditasse nisso, mas a adulta nova-iorquina sim. Escolher o que ver era fundamental para o modo de vida que almejava.
E seu projeto não permitia que ela se apegasse a um gato (dar-lhe um nome significa apego, não?) ou ao escritor falido que se interessa por ela (que Holly, curiosamente, resolve chamar pelo nome do irmão). Ainda mais se ele é sustentado por outra mulher. É muita novidade para mrs. Golightly. Por isso, adorei a linda sequência final em que Paul finalmente despeja algumas verdades em cima dela. E a faz ver que um pouco de realidade pode fazer bem, só pra variar.
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