A lenda dos beijos perdidos é o mais fantasioso dos filmes do mês. Some-se a isso o fato de os dois anteriores não terem me conquistado de verdade. A expectativa era zero e, acho que por isso mesmo, funcionou: em tom de fábula e com números musicais impecáveis, com destaque para a linda parceria entre Cyd Charisse e Gene Kelly, o longa não chega a concorrer a um lugar entre os melhores do gênero, mas desperta simpatia.
Vamos deixar bem claro que a obra é altamente contra-indicada para quem não é fã de musicais. A história é um fiapo: dois caçadores americanos encontram por acaso um povoado no interior da Escócia que sequer está listado no mapa. Em dois minutos, a trama fica muitíssimo clara: o jovem, bonitão e rico Tommy Albright (Kelly) está em dúvidas em relação aos seus sentimentos por sua namorada. Por outro lado, Fiona Campbell (Charisse) decidiu que só vai se casar quando encontrar o amor verdadeiro. Um doce para quem adivinhar o que vem a seguir...
Depois de trocar algumas palavras, já sabemos que ambos estão apaixonados. Mas qual seria o empecilho? Um grande mistério em torno do lugar onde vive a mocinha, Brigadoon. Todos se vestem tão anacronicamente, reagem de forma estranhíssima à presença de estrangeiros e comemoram um tal milagre que ninguém se dá ao trabalho de explicar. E o que é uma grande bênção para alguns é considerado uma maldição pelo amargurado Harry (Hugh Lain). Não demora muito para percebermos que há algo de errado. O problema é que o suspense é bem melhor do que as respostas: a verdade por trás de tudo isso não deixa de ser um tanto decepcionante, no fim das contas.
Sim, a história é tola como um conto de fadas. Mas é fácil entrar no clima. E, com algum esforço, até acreditar na história de amor eterno quase instântanea - afinal, não é nada que você não tenha visto antes. Alguns coadjuvantes chamam atenção, como é o caso de Jeff (Van Johnson), que faz o contraponto racional, cético e sarcástico do amigo o tempo todo. É ele quem não nos deixa esquecer que o clima de vida perfeita em Brigadoon parece uma loucura para alguém de uma cidade grande, com compromissos e relacionamentos sérios. Nem mesmo quando uma moça local (avançadinha para a época, temos que reconhecer) tenta conquistá-lo, numa divertida sequência, ele se deixa levar. Aquele não é mesmo seu mundo.
Quanto ao casal principal, não há grandes diálogos ou grandes atuações que nos façam torcer por um final feliz. Mas não há como negar que tendemos a concordar com a escolha do protagonista. Numa interessante cena, Tommy, num restaurante barulhento, esfumaçado e apinhado de gente reclamando da própria vida, simplesmente desliga do que a namorada diz ao se lembrar da experiência em Brigadoon. Lá não existem problemas nem preocupações, lembram? "Todos são felizes". E, mesmo que você não acredite nisso, acaba torcendo para, pelo menos, Kelly e Charisse dividirem mais uma dança.
0 comentários:
Postar um comentário