Então Peter Jackson resolve realizar um sonho: filmar a trilogia de J.R.R. Tolkien. O problema é: esse não é o sonho somente do diretor, mas também o de uma legião de fãs ao redor do mundo. E a gente sabe que não é possível agradar a gregos e troianos, certo? Que fazer para não fracassar nesse projeto? Pensar em todos os muitos pequeninos detalhes possíveis e impossíveis e executá-los à perfeição. E foi exatamente isso o que Jackson fez.
Quem leu a trilogia sabe que tudo na história é mil vezes mais detalhado e demorado do que o que vemos no filme. E nem se o diretor tivesse optado por fazer dois filmes de cada livro teria dado tempo de incluir todos os detalhes da obra. Portanto, livro e filme são essencialmente diferentes (principalmente no que concerne a Saruman [Christopher Lee, sinistro], mas isso é papo pra outro post). As apresentações no filme tem que ser mais explicadas e a ação começa mais cedo - até porque o filme também é para aqueles que nunca haviam ouvido falar da obra literária. Lembro-me claramente de ter ido ao cinema meio sem saber o que esperar, e até de sair meio exasperada porque o filme tinha terminado sem um "fim". Nunca tinha ouvido falar da história até ser arrastada para o cinema pela minha irmã (valeu, Gi!). Mas também fiquei deslumbrada com aquela Terra, com aqueles povos, com a língua élfica. Quase tive um troço quando Gandalf (Ian McKellen, cuja atuação impecável lhe rendeu uma merecida indicação ao Oscar de melhor ator coadjuvante) caiu nas sombras de Moria.
Saruman: o Mago Branco que passou para o lado negro da Força. Opa!, isso é de outra trilogia.
Aliás, esse é o trunfo da direção de Jackson. Sua paixão pela história e pelos personagens nos faz mais do que somente acompanhar o desenrolar da história. Todo mundo chorou quando Gandalf morreu, bradou a espada junto com Aragorn (Viggo Mortensen, a personificação do herói do livro), sentiu o peso da responsabilidade de carregar o Um Anel no peito com Frodo (Elijah Wood, que parecia extremamente frágil para segurar o papel - mas que deu conta do recado). Lógico, há aqueles que odeiam o filme, e por vários motivos: os mais comuns são os fãs radicais que não gostaram da adaptação por não ser fiel ao livro (ainda bem que Jackson preferiu omitir a passagem dos hobbits pela casa de Tom Bombadil - quase larguei o livro nessa estapa), outros simplesmente não tem paciência de acompanhar 3h de um filme que 'não chega a lugar nenhum'. Quem compra a ideia e mergulha de cabeça nesse fascinante mundo criado por Tolkien e realizado por Jackson sabe que valeu a pena encarar as horas no cinema e ver de novo a saga com as cenas adicionais. Até porque essas cenas não foram introduzidas levianamente.
Os minutos adicionais foram espalhados pelos 2 dvds que contém a versão estendida. São pequenas inserções por todo o filme, que ajudam a compreender melhor o que, na primeira edição, ficou parecendo perder um detalhe. Temos Bilbo (Ian Holm, fofíssimo) se preparando para deixar o Condado e começando a escrever seu livro, contando como é a vida dos hobbits, e o quanto eles não estavam preparados para os perigos a seguir. Conhecemos melhor Valfenda, a linda cidade élfica, e a história de Aragorn (que ficou bastante subentendida na versão original, diga-se), e Lothlórien, a floresta reino de Galadriel (Cate Blanchett). Devo dizer que ela, foi a minha decepção particular. Fisicamente ela representa bem a grande Senhora da Floresta, mas a interpretação, inacreditavelmente, ficou a desejar. Galadriel é misteriosa, mas na tela ela parece robótica, forçada, sem a suavidade que os elfos emanam - mesmo os guerreiros. A tentação a qual resiste também ganhou um efeito especial medonho, que não engrandeceu a cena. Fora isso, foi prazeroso ver mais da linda cidade, e como toda a comitiva foi agraciada com presentes pela Senhora.
O filme termina numa grande virada: Frodo e Sam (Sean Austin, perfeito) seguindo o caminho decidido por Gandalf antes de sua queda em Moria, e Aragorn, Legolas (Orlando Bloom, lindo loiro e de trancinhas - e isso é tudo o que posso falar da interpretação do moço) e Gimli (John Rhys-Davis, ótimo como o anão mais rabugento da Terra Média) indo vingar a morte de Boromir (Sean Bean, perfeito com as nuances de arrogância e bravura) e salvar Pippin (Billy Boyd, tão hilário e inocente como o personagem do livro) e Merry (Dominic Monaghan, o Charlie de 'Lost') de morrer nas mãos de Saruman. O clima é melancólico, duas baixas na Sociedade, caminhos separados. A promessa de um segundo filme mais empolgante fica resumido na frase de Aragorn: "Let's hunt some orc!"
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