Ainda lembro minha cara de tacho ao sair do cinema ao fim de O senhor dos anéis - A sociedade do anel. Sim, eu sabia que se tratava de uma trilogia, mas não estava preparada para um fim tão repentino. Quer dizer, repentino não é bem a palavra, depois de três horas e meia de projeção. Mas eu esperava, talvez, uma "conclusão", ainda que temporária, mas reconfortante. Depois de tudo que passaram, Frodo, Sam e seus companheiros, agora separados e em menor número, passaram por várias dificuldades e ainda não haviam chegado a lugar algum. Mordor ainda parecia inalcançável, e a angústia por saber como isso ia se desenrolar demoraria cerca de um ano. Peter Jackson conseguiu seu objetivo. A história de J. R. R. Tolkien, clássica para os americanos, agora era uma febre mundial.
Adaptada de um romance ambicioso, que inclui povos tão diferentes como orcs, elfos, anões, hobbits e (por que não?) humanos, a versão cinematográfica não é menos grandiosa. A primeira coisa que chama atenção é o requinte visual, garantido com longas filmagens na Nova Zelândia e com digníssimos efeitos especiais (que viria a ter seu melhor resultado com o impressionante Gollum, que ganha o devido destaque a partir da continuação). Não me lembro de um filme recente que tenha um universo fantástico tão realista quanto este, e isto é um mérito. Dá vontade de planejar a próxima viagem de férias para a Terra Média...
Apesar de não ser meu favorito da trilogia, justamente por sua missão de apresentar a história, A sociedade do anel tem alguns bons momentos, como o sensacional embate entre Gandalf e Saruman. Ian McKellen e Christopher Lee, fantásticos, na primeira grande reviravolta da trama, a primeira luta entre o bem e o mal, a primeira dificuldade para Frodo (Elijah Wood) e seus amigos enfrentarem sozinhos. Momento ideal para o surgimento de Aragorn, o papel da vida de Viggo Mortensen, perfeito para o papel do herói que não quer ser herói, atormentado pela responsabilidade de sua herança e apaixonado pela bela Arwen (Liv Tyler).
Mas o grande destaque do filme, a meu ver, é a fatídica passagem do grupo pelas minas de Moria, que vai, em instantes, de diálogos leves e bem-humorados às melhores cenas de ação do longa. O que é o Pippin (Billy Boyd) derrubando a armadura no poço, levando bronca do Gandalf, atraindo a atenção dos orcs e de um assustador troll, que quase mata Frodo? E o grupo seguindo caminho até serem encurralados por orcs que mais parecem uma infestação de baratas e atacados pelo demônio que habita a escuridão, a quem Gandalf desafia: "You should not pass!". Demais, demais.
Sempre achei meio dispensável o trecho em que a enigmática Galadriel (Cate Blanchett) aparece, e creio mesmo que ela deve ter mais importância no livro que no filme, mas até que as cenas extras da versão estendida conseguem contextualizar melhor essa passagem. Além de deixar claro que o carregador do anel e seus acompanhantes são presença indesejável em qualquer lugar, é ali que os hobbits conseguem o pão élfico que vai alimentá-los durante a viagem, por exemplo.
Embora sejam fatos secundários, havia referências a eles em momentos posteriores que deixavam os espectadores (leia-se eu) se perguntando: "Onde eles arrumaram isso?". Compreendo os motivos de Jackson ao passar a tesoura na versão para o cinema, mas coerência é bom e a gente agradece. Já as demais cenas extras eram só gordura mesmo, umas narrações do Bilbo (Ian Holm) aqui, umas sequências sem importância no Condado ali, uns momentos em Rivendell acolá. Nada que realmente fizesse falta diante de tantos acontecimentos (eu nem lembrava que o grupo havia passado por tantos conflitos só no primeiro filme). E é aí que a gente tem certeza de que está em boas mãos: Peter Jackson conhece a história como ninguém e sabe absolutamente o que está fazendo. É só confiar e aguardar o próximo passo.
0 comentários:
Postar um comentário