Miss Marple: uma saudável curiosa da condição humana |
Confesso que mesmo sendo uma grande fã de leitura e de já ter ouvido falar (e muito) de Agatha Christie, eu não conhecia essa obra dela. E não, nunca li um livro dela. É um crime, eu sei. Mas nada muito grave - dá pra resolver isso em dois tempos. Ainda mais agora que eu assisti a A maldição do espelho (Mirror crack'd, 1980) e gostei. A trama é um suspense leve, e Miss Marple, a simpática e sagaz senhorinha vivida pela atriz Angela Lansbury rouba a cena. Logo no início do filme vemos um filme dentro de outro (adoro quando isso acontece!), que é interrompido no momento da revelação do assassino por causa de um defeito na fita. Porque esperar que se resolva o problema pra saber o final do filme se ela já tinha adivinhado quem era o assassino? Miss Marple me ganhou ali, naquele momento.
Só então começa a verdadeira história do filme. Uma famosa, belíssima porém decadente atriz (Elizabeth Taylor, ao que me parece ela melhorou muito a sua forma de interpretar com o passar do tempo - estava muito melhor em cena) está com a saúde mental fragilizada e precisa voltar à cena para recuperar o status e a autoestima. Seu marido, o diretor Jason Rudd (Rock Hudson, lindo como sempre) é quem está tocando o projeto e pede a ajuda do produtor Martin Fenn (Tony Curtis, em participação pequena). Só que, a reboque, ele traz para o projeto a rival de Marina, a srta. Lola Brewster (Kim Novak, divertidíssima). Uma fã de Marina morre envenenada logo após a chegada destes convidados (a cidade toda estava presente, pois seria sede do novo filme da estrela de Hollywood). Com todos em cena, começa a especulação: quem matou a jovem srta. Babcock? E principalmente, por quê? Então, ao coletar informações de sua empregada, que trabalhou como garçonete no dia do evento, Miss Marple descobre que o plano é ainda maior: a vítima principal era a diva do cinema, e a pobre fã só estava no lugar errado, na hora errada.
Tony Curtis e Rock Hudson: piadinhas Hollywoodianas |
O filme segue bem o estilo literário (apesar de não ter conhecimento da obra em si, a adaptação do roteiro deixa bem claro que veio de um livro), apresentando todos os personagens antes de começar realmente a história. As interpretações de todos os personagens dão margem à duvida: será que foi ele? Isso é interessante, e não deixa o filme ficar maçante. Senti uma certa falta de ritmo, mas o ritmo do livro/filme é outro mesmo. Afinal, um livro escrito em 1953 e adaptado para as telonas na década de 1980, com certeza não tem o mesmo ritmo de um filme feito no pós-2000. Além do mais, há elementos engraçadíssimos, típicos do legítimo humor inglês, como as alfinetadas entre diretores e produtores de cinema e a briga de egos das duas atrizes - que se odeiam, mas na frente dos outros são só elogios (com uma pitadinha de veneno) uma pra outra. Atentem também para as impagáveis tiradas de Miss Marple e a engraçadíssima cena em que ela resolve o caso - acordando, num pulo, e já partindo pra ação.
Kim Novak está hilária como a tresloucada rival de Liz Taylor |
No fim das contas, descobre-se que não há nenhum assassino. O que houve era somente um jogo da mente desequilibrada de Marina: para chamar a atenção, ela se mandou cartas anônimas em que se ameaçava de morte, e causou a morte da pobre moça e de sua empregada (que julgava haver descoberto o plano, mas estava a ameaçar a pessoa errada) para poder provar a si própria que ainda podia atuar. No fim das contas, sua última grande atuação foi fora dos palcos ou do cinema. Ela atuava para todos e, cansada disso, resolveu fazer um desfecho triunfante para sua própria (medíocre?) vida. Para mim, ficou a sensação de 'filme eficiente', contou a história exatamente como deveria ser. Não há nada além disso, apesar dos nomes de peso como Taylor, Curtis e Hudson. Foi um bom incentivo a procurar a leitura de Agatha Christie, e uma ótima pedida pra uma tarde chuvosa.
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