As duas características que mais admiro na obra de Woody Allen é o fino uso da ironia para falar da condição humana e a capacidade de provocar questionamentos sobre a própria arte. Com esses dois elementos em falta na comédia episódica A era do rádio, não é de se estranhar que este não seja um dos meus favoritos na filmografia do diretor. O longa de 1987 está para o novaiorquino como Amarcord está para Fellini, uma produção essencialmente nostálgica que resgata momentos da infância de seus realizadores.
Claro que Allen é capaz de construir diálogos acima da média, escalar atores de peso e criar (ou recriar?) personagens interessantes, mas a estrutura fragmentada da produção enfraquece o resultado final. O mesmo acontece, por exemplo, em seu filme mais recente, Para Roma com amor, que peca pelos mesmos motivos, mas que contêm em um ou outro episódio os tais questionamentos a que me referi no início desse texto. No caso de A era do rádio, o espectador que deseja embarcar numa viagem às décadas de 30 e 40, quando o meio de comunicação ocupava espaço de protagonista na vida de muitas famílias, não vai se decepcionar.
Utilizar fatos reais que marcaram história como pano de fundo é um dos acertos do filme. Um exemplo é a famosa pegadinha pregada em 1938 por Orson Welles, que criou uma versão radiofônica de "Guerra dos Mundos", de H.G. Wells, simulando uma invasão alienígena nos Estados Unidos, causando pânico nos lares americanos. Na trama, o suposto acontecimento diverte, ao atrapalhar o encontro de Bea (Diamme Wiest) e seu pretendente. Por outro lado, o complicado resgate de uma menininha que ficou presa num poço sensibilizou todas as famílias do país.
Verdadeiro protagonista da história, o rádio aparece ainda como objeto de desejo de aspirantes a atrizes, como Sally White (Mia Farrow), fonte de entretenimento para as massas (fenômeno que serve para uma das melhores piadas do filme, logo em sua abertura) e fábrica de ilusões para as crianças da época, com o O Vingador, super-herói idolatrado pelos meninos, que nem desconfiavam que seu "alter ego" era baixinho e careca. Tudo isso diverte e entretém durante 88 minutos, mas é pouco diante do que Allen tem para oferecer.
1 comentários:
É uma singela e sensível homenagem de Woody Allen a importância do rádio, claramente com toques autobiográficos.
Até mais
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