A nerdice mais óbvia se reflete nos próprios protagonistas. Gary (Anthony Michael Hall) e Wyatt (Ilan Mitchell-Smith) não fazem sucesso com as garotas, sofrem bullying no colégio e em casa e são tão bons no computador que conseguem criar a mulher perfeita sem sair de casa. Aliás, Hall, que já havia vivido um CDF em Gatinhas e gatões, volta com um personagem tão inteligente, antissocial e sem noção quanto o anterior. Seria ele um alter ego do roteirista e diretor? Fato é que ele e Ilan convencem bem, e o carisma da dupla garante o mínimo de identificação que a trama exige.
E eis que Lisa (Kelly LeBrock) surge como um misto de professora sexy e fada madrinha que realiza todas as vontades dos jovens. O sonho de todo adolescente, certo? Ela não estava ali simplesmente para satisfazê-los ou iniciá-los na vida sexual. A mulher perfeita desperta o interesse dos caras mais populares do colégio, desperta a inveja das meninas e os ajuda a vencer os próprios medos: uma espécie de gênio da lâmpada, de solução mágica para todos os problemas e angústias que a adolescência traz junto com ela. E Kelly, sexy até dizer chega e bem à vontade no papel, consegue cumprir bem a missão sem parecer vulgar demais.
O roteiro, claro, não é dos mais perfeitos e comete uns pecados difíceis de serem perdoados. Como Lisa conseguiu paralisar os avós de Wyatt e transformar Chet (Bill Paxton, caricato ao extremo) num monstro nojento, além de criar do nada um grupo de motoqueiros deformados? Como os meninos ativaram um míssil se simularam no computador todas as características de uma mulher? Como Deb e Hilly se apaixonaram tão rápido pelos rapazes que eram, até então, os idiotas da escola? Bom, isso até que acontece com certa frequência em comédias românticas adolescentes, mas não é isso que se espera de um filme de Hughes, certo?
Mas o segundo nível de nerdice até que é mais interessante: se vocês se lembram, a ideia de criar Lisa veio depois de assistir a Frankenstein. Uma cena linda (e divertida) acontece logo a seguir, quando Wyatt duvida das intenções do amigo, e Gary pede para que ele olhe nos seus olhos. A iluminação e a trilha sonora compõem o clima quando a câmera faz um close nos olhos do rapaz, numa clara homenagem aos antigos filmes de terror, em que o olhar aterrorizante do monstro ou do vilão ficava em primeiro plano. Como se não bastasse, a citação ao clássico personagem de Mary Shelley aparece ainda numa segunda citação.
Mas o filme possui ainda um terceiro nível de nerdice que diz respeito ao próprio momento da criação. Na cabeça de Hughes, o experimento, tão antinatural, era capaz de desafiar as leis da física, suspendendo momentaneamente a gravidade, transformando a cozinha num cômodo azul e fazendo nevar no quarto de Chet. Mais nerd do que isso, impossível.
Mas o filme possui ainda um terceiro nível de nerdice que diz respeito ao próprio momento da criação. Na cabeça de Hughes, o experimento, tão antinatural, era capaz de desafiar as leis da física, suspendendo momentaneamente a gravidade, transformando a cozinha num cômodo azul e fazendo nevar no quarto de Chet. Mais nerd do que isso, impossível.
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