É difícil analisar um filme derivado de um livro que foi uma das minhas maiores decepções literárias. Não que seja má-vontade, mas Assassinato no Expresso Oriente tem um final pretensamente original, que não empolga e tira todo o interesse de histórias de mistério: tentar desvendá-lo antes do fim. Mas esse texto não é sobre uma das maiores pegadinhas de Agatha Christie, mas sobre o burocrático longa de Sidney Lumet, que nem o elenco estelar consegue salvar.
O roteiro do filme busca facilitar um pouco a vida do espectador ao começar com informações sobre o caso Daisy Armstrong. Tenho minhas dúvidas se não seria mais interessante guardar estes dados até meados da trama, afinal não demora muito a ser revelado que a vítima da vez, mr. Ratchett (Richard Widmark) é, na verdade, Cassetti, o mandante do sequestro que chocou os Estados Unidos cinco anos antes. O que falta ser esclarecido é como o assassinato aconteceu dentro de um trem, preso no meio do caminho entre Istambul e Londres por uma tempestade de neve. Estaria o criminoso entre os passageiros?
No entanto, ao contrário do que se poderia esperar, em nenhum momento da trama há real suspense. Ou o fato de ficar 24 horas por dia dividindo o mesmo espaço com um assassino não deixaria o clima mais pesado? Apesar de óbvio, isso não acontece. A direção de atores também deixa a desejar. Albert Finney constrói um Hercule Poirot como uma caricatura absolutamente inverossímil, quase um personagem de circo. Não fosse ele mundialmente famoso (a mais célebre criação da escritora), eu me perguntaria se o assassino não seria ele, disfarçado.
Por outro lado, muitos atores têm pouquíssimos minutos para defender seus personagens, como é o caso de Vanessa Redgrave, Sean Connery e Ingrid Bergman (que conseguiu a incrível façanha de levar um Oscar para casa!). Lauren Bacall, como mrs. Hubbard, trabalha o tempo todo vários tons acima do necessário, sem nenhuma orientação para fazer diferente. A falta de interação entre os personagens é outro problema - e o filme acaba se tornando um longo e maçante interrogatório, em que todos se revezam no vagão ocupado por Poirot. E a surpresa só aumenta quando notamos que o filme tem gente que até então você não sabia que existia. A cereja do bolo, no entanto, ainda está por vir. Depois da revelação, e da curiosa proposta do detetive belga, o ambiente permance tão gelado dentro do Expresso Oriente quanto lá fora. Maior anti-clímax, impossível.
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