Tente ouvir o sotaque italianado de O quatrilho e não pensar em Terra nostra. A tarefa se torna ainda mais difícil porque os protagonistas são imigrantes que se instalam no Brasil a partir da metade do século 19 e que vivem num ambiente rural. As questões abordadas no longa de Fábio Barreto soam profundas - afinal, está ali um pedaço da nossa história, da nossa cultura e da nossa sociedade. Mas não se engane: os temas supostamente importantes são apenas pano de fundo para uma história de amor complicada.
Assim como na quadrilha de Drummond, Angelo (Alexandre Paternost) é casado com Teresa (Patrícia Pillar), que se apaixona por Massimo (Bruno Campos), que é marido de Pierina (Gloria Pires). A tensão do amor proibido fica clara desde o início, com as nada sutis trocas de olhares entre os futuros amantes. A tentação fica ainda mais forte quando os dois casais passam a viver sob o mesmo teto, já que os dois chefes de família se tornam sócios, a fim de possuírem a própria terra.
Segundo o pensamento de Teresa, o que ela sente nada tem de errado, já que amor e casamento são duas coisas diferentes. Sua colocação, absolutamente inocente, quase tira o peso do que acontece a seguir. Mas, de tão forçada, a cena em que ela diz isso a Massimo é apenas um dos exemplos em que o roteiro não se sustenta ao longo da obra e prejudica até a empatia com os personagens. O espectador até poderia ser cúmplice desse amor furtivo, já que a preocupação excessiva de Angelo em enriquecer e a grande submissão de Pierina os tornam cada dia mais distantes dos próprios cônjuges. Mas o diálogo, que deveria ser tenso ou, no mínimo, confessional, se torna extremamente inverossímil, graças ao texto quase infantil e às caras e bocas de Bruno.
Bastante previsível nos seus dois primeiros terços, o filme ganha um pouco mais de força quando o conflito se estabelece de verdade: quando Angelo e Pierina precisam decidir como agir dali pra frente. A reação do grupo social se mostra o viés mais interessante do filme, mas essa discussão logo se esvazia novamente, para dar lugar a um desfecho complacente e apaziguador. Um pouco mais de ousadia não faria mal a ninguém.
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