Modelitos iguais, personalidades diferentes: guerra do laquê |
O mais legal desse filme é que, apesar de ele ter insiprado um dos musicais mais famosos da Brodway e do mundo todo, ele não é um musical. E é necessário que se diga, eu só assisti a essa versão agora, depois de já ter visto (e me apaixonado) pela versão de 2007 com John Travolta como a estrela principal do elenco. Nesta primeira versão, a que inspirou o musical que inspirou o filme, Hairspray - Éramos todos jovens! (Hairspray, 1988) é um filme muito legal. E que, de certa forma, é muito estranho pra mim à medida que é impossível não fazer a comparação.
A começar, não há músicas especiais nesse filme. As músicas tocadas no The Corny Collins Show são músicas que realmente tocavam no início da década de 1960. Há uma descontração no ar que não tem no remake, em que há uma boa ênfase na parte da luta contra a segregação racial. Tracy () e Link () namoram desde mais ou menos a metade do filme, a senhora Edna Turnblad (Divine, uma figuraça) é uma senhora muito mais ativa e menos envergonhada nessa versão. Wilbur Turnblad também aparece bem menos, mas é uma delícia reconhecer que foi o mesmo ator que interpretou Mr. Pinky, o dono da loja de roupas plus size que tem Tracy como garota propaganda, como o impagável Wilbur. Entre as surpresas do elenco de apoio, reconheci Josh Charles (sim, sou dessas que me apego a atores de filmes que gosto, independente de como o filme é classificado - no caso, S.W.A.T.), a presença de um senhor Von Tussel (no filme de 2007 elenão é nem mencionado) e as impagáveis figuras de Motormouth Maybelle e Prudence Pingletone, a mãe conservadora, paranóica, religiosa e desvairada da pobre Penny.
Mas já estou me adiantando, vamos começar do começo: Tracy é uma menina gordinha que sonha participar de um show de tv, e com a ajuda de sua melhor amiga, Penny Pingleton (Leslie Ann Powers, hilária) consegue entrar para o show. Ali ela conhece Link Larkin (Michael St. Gerard) e logo chama a atenção dos telespectadores, roubando a atenção de Amber von Tussel (Colleen Fitspatrick). Seus pais (curiosamente seu pai desaparece na segunda versão, e sua mãe continua sendo a ex-Miss Baltimore Crabs, mas não é a diretora do The Corny Collins Show - o que foi a maior surpresa pra mim) não ficaram nada contentes com isso e planejaram uma vingança, para que Tracy não roubasse o título de Miss Hairspray que eles tanto queriam que sua pimpolha ganhasse. Alheia a essa tramóia, Tracy, Link e Penny acabam se divertindo bastante no bairro negro com Seaweed J. Stubbs (Clayton Prince), que Tracy conheceu quando foi mandada pra turma dos especiais (pra não dizer excluídos socialmente) por causa de seu penteado super fashion. Aliás, essa é a melhor sequencia do filme inteiro: a mãe de Penny, Prudence (Joan Harvilla, absolutamente hilária!), segue a filha até esse bairro e vai ter um terrível choque cultural. Mais não dá pra falar, pois estragaria a comicidade de toda a situação.
Nos estúdios da WWZT, no The Corny Collins Show: arrasando nos passinhos |
Querendo torcer pela amiga, Penny vai com Seaweed e Inez e os três são impedidos de entrar. Começa a briga contra a segregação racial. Os diretores não querem saber de negros no estúdio, Tracy e Link não querem saber de mais nada, apenas de deixar seus amigos entrarem. Na confusão Tracy acaba presa. Uma grande comoção toma conta da cidade, e os amigos de Tracy vão protestar para que ela seja libertada da forma mais inusitada possível: Maybelle (Ruth Brown) e Lil' Inez (Cyrcle Milbourne) se algemam ao prefeito da cidade e exigem que ela seja libertada. Já pensou se isso vira moda? Tracy sai da cadeia e vai para os estúdios da WWZT para concorrer ao título de Miss Hairspray. Como ela ainda estava presa quando o prêmio foi revelado, Amber foi a vencedora (fiquei com invejinha do carro que ela ganhou, coisa mais estranha e linda!). Mas ninguém estava preparado para a vingança dos Von Tussel: uma bomba escondida no penteado de Velma (Debbie Harry), pronta pra estragar a festa caso Tracy ganhasse. Mas Amber ganhou, e eles se esqueceram de desarmar a bomba.
Quando Tracy surge no estúdio, ela vem junto com a invasão dos negros que estavam barrados do lado de fora. Corny então não perde a oportunidade: de uma só tacada retira o título de Amber, coroa Tracy e confirma o show como um primeiro show para negros e brancos. Espertinho ele, não é? Para desespero dos diretores (um deles interpretado por Divine) e alegria geral da nação. E a bomba dos Von Tussel? Bem, ela realmente explode, deixando Velma careca e arremessando a peruca direto para a cabeça de Amber, que ainda teimava em ficar no trono de Miss Hairspray. Expulsos do estúdio, chega a hora de Tracy reinar. E seu mandato começa com um único grito: vamos dançar!
Sr. e Sra. von Tussel: armados e perigosos |
Dá pra perceber como o roteiro foi reaproveitado no novo projeto: várias músicas do musical são inspiradas em frases do filme (a mais emblemática, provavelmente, é a 'Big, blonde and beautiful', uma frase dita despretensiosamente por Tracy) e como algumas partes foram mais valorizadas - como no caso do preconceito por Tracy ser gorda, a segregação racial na tv (reflexo da sociedade americana da época) e o namoro interracial de Penny e Seaweed. Ambos filmes (infelizmente não tive o prazer de ir à Brodway ver a peça) são boas experiências, tão diferentes e tão semelhantes que é impossível desassociar uma da outra. Duas experiências que se complementam. Não assista a uma sem a outra.
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