Hugo (Butterfield) e Isabelle (Moretz): o deslumbramento com o cinema |
Eu li o livro de Brian Selznic antes de ver o filme (que não tinha visto no cinema, nem antes da premiação do Oscar que concorreu), mas garanto que as expectativas sobre o visual do filme foram muito altas e, graças a Deus, foram muito bem correspondidas. A invenção de Hugo Cabret (Hugo, 2011) é um filme lindo, de perder o fôlego com os efeitos visuais e a fotografia lindíssima. A história é comovente como poucas, e tem grandes sutis reviravoltas. Mas digo que apesar do visual deslumbrante, o fime me pareceu um tanto frio.
Hugo (Asa Butterfield, de olhos extremamente lindos e expressivos) é um menino órfão que herdou do pai (Jude Law em uma microparticipação) o gosto por consertar relógios. Após o acidente no museu que vitimou seu amado pai, Hugo vai morar com o tio Claude (Ray Winstone) na estação de trem de Paris. Para lá, ele leva somente a saudade de seu pai e o autômato que ele levou para casa afim de consertar. Uma máquina complexa e bonita, uma figura humana capaz de (supostamente) escrever e que estava quebrada havia anos. Hugo tomou aquilo como sua missão na vida, consertar a máquina que seu pai trouxera. Este autômato era seu maior tesouro e sua única alegria na convivência com tio Claude. Ele era um homem rude, vivia bêbado, e seu trabalho era ajustar e consertar os relógios da estação de trem. Um dia tio Claude some e cabe a Hugo cuidar dos relógios como se tio Claude ainda estivesse lá - ninguém sabia da existência dele.
Inspetor Gustave (Baron Cohen) e seu doberman: implacáveis, mas nem tanto |
Então o menino roubava para comer, e seu maior desafio era fazer isso sem que o inspetor Gustave (Sacha Baran Cohen, a veia cômica do filme) o pegasse e mandasse para o orfanato. Seu inseparável doberman parece ler a mente do homem, e ambos funcionam como uma máquina: farejar pequenos ladrões órfãos (vítimas da guerra e da recessão), perseguir, prender, mandar para o orfanato. Sem coração mole para os pequenos, apenas para a jovem florista da estação, a senhorita Lisette (Emily Mortimer). Hugo roubava também a loja de brinquedos do senhor George (Ben Kingsley), atrás de peças para consertar seu autômato. Mas o dono da loja já estava farto de ver suas peças roubadas, e um dia consegue pegar o menino que o vinha roubando. Confrontado, Hugo teve que esvaziar os bolsos e lá estava seu precioso caderno, com os desenhos de seu pai sobre o funcionamento do autômato, seus estudos sobre o intrincado funcionamento dele. O homem ficou extremamente sensibilizado e estranhamente irritado com o caderno, e resolveu tomá-lo de Hugo. Queimaria aquele caderno. E Hugo? O que faria sem aquela lembraça de seu pai? Como conseguiria consertar o autômato?
Desesperado, Hugo o segue até a casa do senhor, que o ignora e o deixa na rua - mesmo estando muito frio e ele saber, de certa forma, que o menino não tinha para onde ir. No dia seguinte, Hugo continua indo até a loja para cobrar seu caderno, e conhece Isabelle (Chöle Grace Moretz, fofa), sobrinha de George. Uma menina doce e dedicada aos livros, adotada por George e sua esposa depois que seus pais morrem. Ela adora o tio, e pede a Hugo que tenha calma, porque ela vai ajudá-lo. Ela sonha viver uma aventura na vida, como seus ídolos dos livros que sempre pegava na livraria do senhor Labisse (Christopher Lee, um querido sempre). Hugo havia largado a escola para aprender o ofício do tio Claude, mas gostava de livros e eles lhe traziam lembranças de seu pai. Livros e cinema.
Hugo e o autômato: mistérios e mais mistérios |
Com o tempo, Hugo torna-se amigo de Isabelle e aprendiz do senhor George na lojinha de brinquedos, enquanto continuava regulando os relógios da estação e consertando seu autômato. Quando finalmente consegue consertá-lo, descobre que uma peça está faltando: a estranha chave em formato de coração é fundamental para o funcionamento perfeito do autômato. O problema era que Hugo não fazia ideia de onde encontrá-la. Surpreendentemente, o menino descobre que Isabelle possui uma chave em formato de coração, exatamente como a que ele precisa para ligar o autômato. Esperando receber uma mensagem de seu pai, ele liga a máquina e espera ele terminar seu trabalho: um desenho, de uma bala de canhão atingindo o olho da Lua. Uma cena fantástica, de um filme muito especial para o pai do menino, e para ele também. mas não fazia muito sentido. No fim, o autômato assinou o desenho: George Mélies, o nome do diretor do filme. Para surpresa de Isabelle, que descobriu que o tio George era um artista. Para ter mais informações, foram à casa de Isabelle de novo, mas uma grande confusão acaba por magoar ainda mais o pobre senhor Mélies - ele queria se esquecer do passado de sonhos e fantasias, mas desde que Hugo apareceu em sua vida, esses 'fantasmas' surgiram para atormentá-lo.
Curiosos quanto ao passado de tio George, Hugo e Isabelle começam a investigar o passado dele no cinema. Descobrem que ele foi um dos precursores do cinema, o primeiro a criar ficção filmada. Na biblioteca da Acedemia de Cinema, eles encontram um professor apaixonado pela história do diretor e contam a ele que tio George é o George Mélies que ele tanto admirava. Assim, combinam de levar o professor René Tabard (Michael Stuhlbarg) para encontrar o tio de Isabelle. Porém, a tia Jeanne (Helen McCrory, excelente) os impediu de ver George. Quando o Talbard se desculpa pelo incômodo e, antes de sair, elogia tia Jeanne por sua beleza ainda intacta, as crianças descobrem que ela era a musa de George e a principal atriz de seus filmes. Tentada a se rever na tela uma última vez, autoriza que Talbard exiba sua cópia de "Viagem à Lua", a obra-prima de seu marido. Emocionados, todos se voltam para tio George, que chega à sala naquele momento. Ele relmebra com carinho da sua história, sem a dor que o passado lhe trazia. E conhecemos a vida interessantíssima e o triste fim de uma época fascinante na vida de tio George. E tudo por causa do autômato de Hugo, que descobriu seu verdadeiro criador - George Mélies.
Ao voltar correndo para a estação em busca de seu autômato, para devolvê-lo a seu dono e explicar toda a história, Hugo é pego pelo inspetor Gustave e quase vai para o orfanato. Foi salvo por tio George, que assumiu a responsabilidade pelo menino. No fim, uma grande homenagem ao George Mélies verdadeiro foi feita: na homenagem do professor Tabard a tio George, há uma apresentação de trechos dos filmes de Mélies. Um final digno de um espetáculo visual como esta realização de Scorcese.
Deixa tia Petúnia saber disso... |
Aliás, achei divertida a participação robert do diretor, como um fotógrafo lambe-lambe registrando o início da carreira cinematográfica de tio George. A escolha do menino Asa para o papel de Hugo Cabret foi acertada, ele tem um ar de inocência e uma expressividade únicas. Ben Kingsley e Christopher Lee são acertos sempre. Aliás, fiquei fascinada com a pequeniníssima participação de Lee - em poucas cenas, ele consegue demonstrar a desconfiança inicial de Monsieur Tabisse para Hugo, seu apreço por Isabelle e sua empatia final pelo pequeno órfão. Chamar de mestre é pouco. Divertido também foi o Gustave de Baron Cohen e seu cachorro, e ver tio Válter (Richard Griffiths) e Madame Maxime (Frances de la Tour) num estranho caso de amor. Sim, participações de luxo no filme, apesar de seus personagens terem mais peso no livro. Como disse no início, eu tinha grandes expectativas para o filme por ter me apaixonado pelo livro. A questão do desenho substituir a narrativa em alguns trechos do livro e as profundas questões que ele alcança dentro de uma narrativa leve, o amor dedicado ao cinema e à literatura são difíceis de se transpôr para a tela. Mas o diretor fez um ótimo trabalho, e acho que o filme é um ótimo complemento à experiência de se compreender a obra de Selznic. Graças ao carisma de Asa, da graça de Baron Cohen, da fotografia e dos efeitos visuais, o filme torna-se memorável. Mas o livro é inesquecível.
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