Chihiro está muito aborrecida. Não quer se mudar, mas a família já está a caminho da nova casa. Ou quase! Um desvio leva a garota e seus pais à beira de um misterioso túnel. Curiosos, paí e mãe decidem investigar o que acreditam ser um parque de diversões abandonado, ignorando os saltitos, gritos e pirraça da menina, que não tem outra opção a não ser acompanha-los. É claro que nossa personagem título estava certa, a passagem leva a "outro mundo". Mundo esse cheio de magia, personagens estranhos e segredos, que a menina terá que desvendar sozinha, uma vez que seus pais viraram enormes porcos!!!
Chihiro é mimada, medrosa e tem se comportado mal por estar se mudando contra sua vontade. Entretanto, quem nunca se sentiu em seu lugar na infância, que atire a primeira pedra. Logo, fica fácil simpatizar com a menina, especialmente quando ela se encontra completamente sozinha em um mundo desconhecido. Dá medo.
Dá medo, não apenas pela situação, mas pelo universo que apesar de colorido, não é nada fofo como é quase regra do lado de cá do globo terrestre. Yubaba deve ser assustadora? Então ela é, com sua voz rouca cabeça grande, cheia de rugas. O mesmo acontece com outros personagens. Mas tudo tem dois lados. Nem todos que são horríveis são maus, nem tudo que é belo faz bem. Essa é apenas uma das muitas lições que Chihiro tem que aprender em sua jornada para a idade adulta.
Sim. A Viagem de Chihiro é uma história de amadurecimento e de encarar as mudanças, superar e aceitar a vida como ela é! De mimada fazendo birra no banco de trás do carro, Chihiro passa a ser a única responsável pelo seu bem estar (leia-se sobrevivência) e por resgatar seus pais. E do jeito mais demorado e difícil aprende a resolver seus próprios problemas, descobre o prazer em ajudar os outros e até faz alguns amigos.
Mas o filme ainda faz uma severa crítica a sociedade. Hipocritas pais de Chihiro, logo subvertem normas para fazerem o que querem, e são castigados. Mas as criticas não param por aí. A casa de banhos onde acontece a maior parte da história, é composta por funcionários anônimos (eles tem seu nome, personalidade e liberdade roubados pela chefe), bajuladores que fazem qualquer coisa por dinheiro. Os clientes por sua vez aceitam tais mimos, e mais, buscam a fartura exacerbada. O que não significa que não possam ser julgados pela aparência por esses mesmos funcionários, ou que não sejam na verdade um bom espírito por baixo de toda a sujeira.
Até aqui já foram críticas à sociedade, à falsidade das relações entre os adultos, ao consumismo exagerado, ao descaso com o meio ambiente, e ao preconceito. Mas não é só no reino dos crescidinhos que existem problemas, o bebê gigante e cheio de vontades é uma crítica às gerações criadas cheias de mordomias. As crianças estão se tornando os reis da casa, e logo ficarão tão grandes que não há Super-Nani, Babá McFee, ou Mary Poppins que dê jeito. Ao mesmo tempo que seus pais os cercam de tantos cuidados que os impedem de crescer independentes, criando os pequenos em uma bolha, ou em um quarto macio para que nunca se machuquem.
Tudo isso, com uma técnica de animação impecável, multicolorida, riquíssima em detalhes e significados. O estranhamento, não é apenas com a cultura tão diferente da nossa, mas principalmente pelas elaboradas criaturas que povoam aquele mundo.
O ritmo é bastante diferente das animações a que estamos acostumados no ocidente. Episódico, Chihiro enfrenta dificuldades cada vez maiores em eventos intercalados, com momentos de compreensão e contemplação. Como se o expectador ganhasse um tempo para refletir, compreender, tirar algo dali, antes de partir para outra.
Há quem diga que,com esse ritmo, não é um filme para crianças. Eu digo que, com esse ritmo, também pode não ser um filme para adultos. Isso depende, do adulto, da criança, e da boa vontade de sair da suas zonas de conforto. Um conselho, aproveite! Sair da zona de conforto nem sempre é agradável, ou opcional como simplesmente escolher assistir a um filme. A própria Chihiro pode confirmar isso!
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