A primeira lembrança que tenho de Labirinto - A Magia do Tempo, é de estar apavorada durante a cena em que os duendes invadem o quarto de Tobby, enquanto minha mãe tentava me distrair para não abandonar o filme durante a cena assustadora. - Olha são bichinhos! - Ela dizia. É claro, eu tinha uns cinco anos na época. E superado este trecho, o longa de 1986, acabou se tornando um vício. Ou, em palavras mais poéticas, o filme da minha infância. Logo, sou suspeita para resenha-lo, mesmo assim tentarei da forma mais imparcial possível.
A sonhadora Sarah (Jennifer Connely) está chateada, por passar mais um fim de semana cuidando de seu irmãozinho caçula. Irritada com a choradeira do bebê, ela deseja que o Rei dos Duendes (David Bowie) o leve embora. É claro, ele leva! Imediatamente arrependida ela implora pelo irmão, e recebe uma única chance. Deve atravessar o Labirinto e chegar ao castelo além da cidade dos Duendes, para resgata-lo em 13 horas, se não....
Aventura episódica, lembra as fases e desafios de um vídeo-game, a cada nova dificuldade Sarah acumula aprendizado e aliados, enquanto conhece as mais estranhas criaturas que se pode imaginar. Um filme que pretende divertir todas as idades, apresenta diálogos que não subestimam o expectador. O mesmo vale para os desafios (ainda não entendi, como Sarah resolveu o dos sentinelas que mentem), embora alguns ainda resguardem um divertido tema inocente, como o Poço do Fedor eterno e sua aparência flatulenta.
Entre as criaturas fantásticas que a acompanham, o monstro amável Ludo. Sir. Didimus, um nobre e medroso cachorro (ou seria raposa?), que tem um cachorro como montaria. E o ambíguo Hoggle (corpo de Shari Weiser, cabeça e voz controladas por outros 5 artistas), em dúvida entre a amizade e salvar seu couro. A protagonista encontra ainda, selvagens que arrancam partes do corpo, sábios e até mãos e pedras falantes. Destaque para a Senhora do Lixo, que apenas agora percebi ser uma metáfora para a bagagem inútil que acumulamos durante a vida.
É aí, que está o grande trunfo do longa. As metáforas, e detalhes que para os pequenos passam despercebidos, mas dizem muito para os mais crescidinhos. O tema principal é a passagem para a idade adulta e aceitar as responsabilidades que vem com a idade. Mas também são postos em discussão, a lealdade, amizade, o desapego, o seu lugar no mundo e claro o tradicional "cuidado com o que deseja". Afinal, tudo que o vilão Jareth faz, pretende atender as expectativas de sua voluntariosa rival.
E por falar no vilão como não se divertir com um astro do rock, cantando, dançando e sendo charmosamente malvado de calça coladinha. Divertido, Bowie já não era um novato nas telas e continua a flertar com elas (Fome de Viver - 1983, A última tentação de Cristo - 1988) entrega o que o papel pede. Já Jennifer se sai bem com sua primeira protagonista aos 14 anos, ela carrega o filme. Mas o trabalho impressionante mesmo é da equipe de titereiros de Jim Henson.
Titereiros são as pessoas que manipulam os fantoches, e a equipe de Henson já era responsável pelos sucessos de os Muppets e Vila Sésamo, quando decidiu embarcar nesta produção de escala gigantesca. É impressionante a variedade de bonecos de diferentes tamanhos e estilos, assim como sua veracidade. É difícil lembrar que não são vivos de verdade. Claro, alguns efeitos parecem datados, mas nenhum personagem hiper-realista em CGI dos dias de hoje, carrega o carisma e charme dos bonecos. (Alô, Yoda boneco versus Yoda digital!).
Uma produção de grande escala, bom elenco, boas músicas, idéias criativas (palmas para o passeio nas escadarias de Escher) e um design de produção incrivelmente detalhado, seja nos cenários ou no "zilhão" de criaturas. Faz ainda referência a diversas obras, e conceitos de fantasia e lendas de diversas épocas. Um trabalho enorme que curiosamente, não foi recompensado nas bilheterias.
Se aos 5 anos eu apenas me divertia, me sentindo adulta por sobreviver a cena assustadora do início, por não estar vendo uma animação, que ainda tinha incompreensíveis músicas em inglês. Agora admiro Labirinto - A Magia do Tempo por todos estes outros motivos, que apontei nos parágrafos anteriores. E ainda conseguir me divertir com um bom filme de quase 3 décadas de idade, é apenas um adorável bônus.
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