Admito, a exclamação anterior foi a minha reação a uma cena em que Heleno, já muito debilitado pela doença, encara a câmera por longos segundos. Sem nada a oferecer ao expectador que a desorientação e loucura de seus últimos dias. Resultado da combinação de ótimas atuação e maquiagem.
O ícone do Botafogo Heleno de Freitas (Rodrigo Santoro), foi o primeiro jogador a receber salário e atenções equivalentes as estrelas de cinema. Também foi o primeiro jogador-problema do futebol brasileiro. Talentoso, arrogante e mulherengo, usou e abusou de mulheres, drogas e confusões, dentro e fora do trabalho. Graças aos excessos, terminou a vida louco em um asilo.
Partindo do fim da vida do personagem, o longa intercala sequencias do auge de sua carreira e do fim de sua vida. Gerando uma relação de causa e efeito (muitas mulheres na juventude = sífilis, mais mulheres = perda da esposa). Sempre com enfoque em seus excessos e sua personalidade explosiva e autoritária.
Alternando entre o jovem, confiante, charmoso e impetuoso astro dos gramados, e o frágil, fisicamente deformado e confuso Heleno do fim da vida, Santoro sempre convence. Seja em cada uma das fases, ou no reconhecimento de que embora opostas, aquelas eram versões da mesma pessoa.
Pouco do futebol é visto no longa. Afinal, são apenas seus resultados que importam. É seu talento no campo que lhe dá, (ou faz acreditar que tenha) o direito de levar sua vida de bad-boy sem problemas. Ninguém faz o que ele faz no campo, logo ele pode fazer o que quiser fora dele.
A fotografia em preto e branco evoca o charme da época em que a personagem frequenta o Copacabana Palace. Ao mesmo tempo que torna a passagem no asilo mais triste e deprimente. Coincidência ou não, o preto e o branco são as cores do Botafogo, time de devoção do protagonista, que nele não conquistou nenhum título.
Mais que um grande jogador de futebol, Heleno se dizia um grande jogador do Botafogo. Sua vida, e carreira, desandam de vez quando o time o dispensa vende para outro time. Em tempos que jogadores trocam time, como trocam de camisa, é surpreendente conhecer um que jogaria mesmo de graça pelas suas cores.
Figura dramática e icônica, Heleno teria certeza de que seria lembrado. Provavelmente, nos dias de hoje, seu nome não é tão conhecido quando o jogador acreditava que seria. Ou melhor, não era! Com retrato tão interessante e bem feito, só não descobre a lenda que fora Heleno quem não quiser.
Resenha publicada originalmente no blog Ah! E por falar nisso... em Abril de 2012.
0 comentários:
Postar um comentário