Chega hoje aos cinemas mais uma versão cinematográfica sobre um controverso caso de investigação criminal. Sem evidências (Devil's knot, 2014) retrata um caso que até hoje está sem uma solução concreta: na década de 1990, três meninos foram encontrados mortos em uma localidade remota no estado de Memphis, EUA, e tudo indicava que eles haviam sido parte de um ritual satânico. O caso gerou comoção local, e as autoridades locais se viram pressionadas a achar um culpado para o caso. Sob a mão de ferro da polícia, o olhar torto de toda uma cidade cristã - em sua maioria - e os holofotes da imprensa, três adolescentes são levados a julgamento acusados de serem os executores dos meninos. A mãe de um dos meninos, Pam Hobbs (Reese Whiterspoon), acompanha avidamente o desenrolar do caso. Seu desespero comove a população, e acaba por influenciar o julgamento das pessoas que só acompanham o caso pelo noticiário. O investigador particular Ron Lax (Colin Firth) decide trabalhar de graça para o caso por desconfiar que havia alguma coisa errada nessa história. Para Ron, a população estava sendo levada a acreditar que os meninos realizaram esses crimes, mas estavam sendo enganadas. Acompanhando os detalhes do caso, ele ajuda os advogados de defesa a encontrar evidências de manipulação no depoimento dos acusados, sumiço de evidências e outras incongruências no caso.
O desenrolar do filme mostra o julgamento e a condenação dos acusados, apesar da luta do investigador em provar que o método que a polícia utilizou para acusá-los estava baseado em evidências, no mínimo, suspeitas. O caso, real, ainda está em andamento - como aparece no final do filme, algumas novas evidências foram levadas a julgamento mesmo depois de 20 anos de iniciado o processo. Existem documentários sobre o caso, um deles, inclusive, é mostrado no filme - durante a investigação, Ron chega a conversar com um membro da equipe e descobre uma pista importante. O diretor canadense Atom Egoyan dirige com delicadeza o filme, evitando apelar para o grotesco (o local onde há a suspeita de realização de um ritual macabro e as fotos da perícia dos corpos mutilados dos meninos são mostrados muito rapidamente, e de forma discreta) e sem descambar para o melodrama. Fica evidente a indignação dele ao contar a história de uma sabotagem na defesa dos acusados - pelo menos é essa sensação que ficou impregnada em mim ao analisar a forma como ele retratou a história - e que ele tomou partido, o que nem é condenável nesse caso. A questão é que ele nos mostra um caso incômodo e que parece mesmo ser injusto, então gera uma sensação de "preciso fazer algo a respeito", como a que motivou Lax a se empenhar na defesa dos acusados. O tal "fazer algo a respeito" pode ser simplesmente querer ler o livro romance em que o filme foi baseado ou ir para a internet caçar as notícias sobre o caso verdadeiro.
Confesso que fui ao cinema apenas por causa do nome de Colin Firth no elenco. Sou fã do ator, e sempre me encanto com suas atuações - e nesse filme, ele não me decepcionou. Firth cria um homem amargurado por sua vida pessoal em ruínas que toma um caso que parecia impossível de resolver (em parte porque precisava de uma distração para a separação que acontecia) e a torna um lema de vida. Reese Whiterspoon também surpreende, dando conta de uma personagem fora de sua zona de conforto. Nunca fui muito fã dela, mas é fato que ela não deixa a desejar interpretando uma mãe atormentada pela perda do filho de forma tão cruel. Firth e Whiterspoon são, ao lado do praticamente estreante James Hamrick, que interpreta Damien Echols - o adolescente acusado de ser o mentor dos crimes (vou ficar de olho, o futuro dele parece promissor), os destaques do elenco que, no geral, foi eficiente em criar um ambiente esquisito. O filme termina inconcluso, assim como o caso real. Não chega a incomodar o fato de não ter um final ou a catarse de se ver os culpados pela morte horrenda dos meninos serem devidamente julgados e condenados a qualquer pena que fosse, mas a gente fica mesmo indignado de ver que o filme só não tem um final (nem triste, nem feliz) porque essa história não teve mesmo um fim.
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