Opa! Devido a problemas técnicos, essa resenha está saindo fora de contexto e de timing também - que chato! Mas não serão os pequenos problemas diários (leia-se pc pifado) que me atrapalharão em minha jornada épica de querer me transformar em uma cinéfila melhor. ;)
Amantes eternos (Only lovers left alive, 2014) é um filme diferente. Acho que consigo qualificar ele assim. Em primeiro lugar, ele quebra alguns paradigmas de "filme de vampiro": não tem cenas de sexo, não tem preto/couro/violência, não tem clima sobrenatural. Vampiros são retratados como seres absolutamente enfadados com a pequenez humana - o que torna Adam (Tom Hiddlestone, estranhamente sexy) um curioso vampiro depressivo com tendências suicidas. Eva (Tilda Swinton, impressionante como consegue ser excelente em qualquer performance!), sua amada imortal, também não é lá muito fã dos humanos em geral, apesar de saber que precisam deles para sobrevivência e de admitir que alguns deles até que são, bem, não tão inúteis.
A trama, em si, não tem muita coisa acontecendo. Adam está em uma crise existencial e quer se matar, então pede ajuda a seu, digamos, amigo Ian (Anton Yelchin) para conseguir uma bala especial de madeira. Sua amada, Eve, mesmo muito longe dele, pressente a tristeza de Adam e acaba por ir visitá-lo. Ele vivia isolado em uma casa que era mais uma mistura de estúdio de som e cabana caindo aos pedaços, recebeu não só a visita de Eve como a de sua cunhada, Ava (Mia Wasikowska, a Alice do Tim Burton). Esta chegou sem avisar e foi muito mal comportada, como uma típica adolescente seria - isso se você levar em consideração que não existe uma adolescência vampiresca. Sem poder curtir seu amor em paz, sem ter mais para onde ir, Adam acaba por ceder e voltar com Eva para a casa dela. O que eles não esperavam era encontrar Christopher Marlowe (John Hurt, excelente) já muito fraco - e todo o estoque de sangue bom no fim.
Contei muito resumidamente o que vi da estória porque não quero estragar a experiência de quem ainda não viu. Por quê? Simplesmente porque o filme é muito mais do que isso. Confesso, não é fácil digerir tantas coisas diferentes ao mesmo tempo, e a estranheza que fica em primeiro lugar pode demorar muito a ceder - como aconteceu comigo. Talvez eu tenha ido ao cinema muito empolgada por ver Hiddlestone e Swinton como vampiros, ainda arraigada à ideia dos vampiros-sexy-couro-preto-sobrenatural-violência; talvez eu não soubesse o que significava assistir a um filme de Jim Jarmusch (depois fiz meu dever de casa e pesquisei sobre ele, e ouvi muita gente comentando do seu jeito peculiar de ver e retratar o mundo). Como dizem por aí, "crie qualquer coisa, menos expectativas". Saí do cinema um tanto frustrada com o que assisti, mas, enquanto escrevo, percebo que o filme tem qualidades muito maiores do que eu consegui perceber de primeira. A genialidade dos argumentos e as piadinhas ácidas estão ali o tempo todo, o diretor brinca com referências históricas e a memória do espectador, a trilha sonora é contagiante, todo o elenco está no tom certo para interpretar seus personagens, a fotografia e produção de arte bastante eficientes - tudo estava lá, mas eu não vi até que precisei me afastar do filme. Depois que a gente digere tudo, aí fica mais legal.
Não quer dizer que o filme é meu favorito ou que eu "perdoei" algumas coisas que me incomodaram durante a exibição do longa - como, por exemplo, os cabelos não lavados dos vampiros, o final abrupto (que depois eu entendi como uma crítica à sociedade) e o ritmo exageradamente lento com que a trama se desenvolve. Ok, não é um filme blockbuster, mas também não precisava exagerar no "nada acontece" para enfatizar o enfado e a desilusão dos protagonistas: os atores são extremamente competentes e deram conta do recado só com expressões faciais, dava para ter economizado uns 20min de filme na soma final. Mas, como curiosa que sou, vou dar um voto de confiança ao filme e procurar mais coisas do diretor e tirar minha prova dos nove. Talvez eu até consiga rever o filme. Um dia. Por causa do casal de vampiros mais androginamente sexy e estranho de todos os tempos.
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