Acho que Barnabás (Depp) concorda... |
Acho que Tim Burton está sofrendo de um mal chamado "expectativa exagerada dos fãs". Explico. Não faz tanto tempo que Sombras da noite (Dark Shadows, 2012) foi lançado, e me lembro com clareza da expectativa de alguns fãs quanto a esse filme. Era muito comum ouvir (ler) comentários do tipo "agora sim vamos ver um bom filme de vampiro!", "Depp como vampiro vai ser demais!", "clima sombrio do Burton e filme de vampiro, até que enfim!". O que a maioria não esperava era uma comédia - que é o que realmente o filme é. O longa foi baseado em uma série cômica dos anos 1970, então porquê não aceitar o fato de ser uma comédia de vampiro? Muita, mas muita gente mesmo, sequer deu chance pro filme. Ok, nem tudo é só mimimi de fã revoltz. O filme não é lá um primor - até porque, a meu ver, foi muito tímido ao explorar a comédia em si. Burton trabalhou bastante a comicidade sutil e fiou-se no carisma de Depp para dar vida à excentricidade de Barnabás Collins, o tal vampiro do filme. Uma pena.
Angie (Green): nunca compre briga com uma bruxa |
Barnabás Collins (Depp) é um menino inglês que viaja com os pais para colonizar a distante América ainda no século 18. Lá a família prospera e eles chegam a construir uma cidade para si, Collinsport, e um castelo magnífico para chamar de lar - Collinwood. Quando já estava um rapaz, Barnabás acaba se envolvendo com Angelique (Eva Green, estranhamente linda e péssima atriz), uma criada. O que ele não imaginava era que ela ficaria obcecada por ele e que, por vingança de ter seu coração partido pela indiferença de Barnabás, ela iria lançar uma maldição sobre ele e sua família. Afinal, de todas as criadas do castelo, ele tinha que ter arrumado briga com uma bruxa, não é? Pois bem. Angelique matou os pais de Barnabás e fez a jovem Josette (Bella Heathcote, quase inexpressiva), por quem ele era apaixonado, suicidar-se. Quando ele tenta dar cabo da própria vida, ela o transforma em vampiro para que sofra pela eternidade. Como se não bastasse, ela ainda joga a cidade inteira contra ele e o condena a ser enterrado em um caixão, e ainda rogou praga para a família - que todos morreriam até não sobraria nenhum Collins para contar a história. Isso é que se pode chamar de rancor!
Parece que todo mundo esperava mais, até os próprios Collins |
Quase 200 anos depois, Barnabás é desenterrado por acidente e retorna a Collinwood em um momento delicado. Há apenas quatro herdeiros restantes: Elizabeth (Michelle Pfeifer, ótima), sua filha Carolyn (Chloë Grace Moretz, para sempre a HitGirl), o irmão de Elizabeth, Roger (Johnny Lee Miller), e o jovem David (Gulliver McGrath, um mini clone de Jack Black). David é assombrado pelo espírito da mãe, que morreu de forma estranha em um acidente náutico, e ninguém dá muita bola para o garoto em casa. Contratam uma psiquiatra na tentativa de ajudar o garoto, a doutora Julia Hoffman (Helena Bonham Carter, em participação pequena), que nos últimos 3 anos não fez muita coisa além de morar com os Collins e embriagar-se. Uma governanta, a jovem Victoria Winters - que é, na verdade Maggie Evans - foi contratada para cuidar do garoto, mas ela também esconde alguma coisa em seu passado. Além deles, os outros habitantes da casa são dois criados: um faz-tudo muito esquisito e uma senhora com os dois pés na cova. Retornando ao lar, Barnabás tenta reestruturar a família e a empresa, que fora engolida pela concorrência - uma tal de Angie havia transformado Collinsport em Angel Bay e dominado a indústria de pesca. Sim, Angie é a bruxa Angelique. Barnabás e Angie vão disputar o domínio pela região enquanto ele tenta seguir o lema dos Collins: família em primeiro lugar.
Desperdício de boas piadas |
Acontece que Barnabás se apaixona por Victoria, já que ela é a cara de sua amada Josette; Angie torna-se cada vez mais ardilosa em sua vingança e... Não acontece muito mais coisa empolgante. Tem lá a festa com Alice Cooper (em pessoa) e a descoberta da lobisomen-menina na família, mas falta alguma coisa mais. A personagem de Bonham Carter é dispensável, e quase não há o tal "sombrio Tim Burton", então eu esperava mais do humor sagaz. Piadinhas como a do Mefistófeles e sobre a estranha figura do astro do rock, a caracterização esquisita da bruxa de Green no embate final, Barnabás tentando se adaptar aos novos tempos, os hippies, a estranha relação da família Collins... Tudo ficou subaproveitado. Fiquei com a sensação de que o diretor ficou pressionado entre arriscar algo mais ousado e ter que repetir sucesso de parceria. Outra coisa que me irritou muito foi a atuação de Johnny Depp. Ele parecia se divertir com as garras novas de seu personagem, mas o gestual exagerado não combinou com o restante da atuação do elenco - então ele se sobressai do modo errado. Mesmo não sendo uma obra-prima, e apesar de todos os problemas, eu gosto desse filme. Só não dá pra rever a cada fim de ano, como o meu preferido Mãos-de-Tesoura.
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