Contando com uma luxuosa animação em 3D, um colorido forte e encantador, um roteiro esperto e personagens divertidos, Festa no céu (The book of life, 2014) é um entretenimento de primeira e um deleite para amantes de animação. O filme aborda temas profundos de forma leve e divertida, entretendo adultos enquanto ensina às crianças, com muito bom humor e sutileza, lições sobre a vida e a morte - além de que o México é o centro do Universo!
Tudo começa com uma daquelas excursões que todos fazemos aos museus quando estamos no colégio. Um grupo de jovens pestinhas, achando que aquele dia seria super chato, é o último a chegar para visitações naquele 02 de Novembro. Mas eles são recebidos por uma bonita guia, que os leva a descobrir uma ala escondida, onde estão espalhadas diversas coisas sobre o México. O ambiente, cheio de caveiras, é um prato cheio para os ávidos (e agora atentos) olhos das crianças, que passam a prestar atenção em tudo o que a guia fala. Então eles se deparam com o Livro da Vida, um enorme volume em destaque na ala. Mary Beth (Christina Applegate, na dublagem original), a guia, começa a explicar a estória ali escrita com a ajuda dos bonequinhos representantes dos personagens.
Assim, ela apresenta La Muerte (Kate Del Castillo) e Xibalba (Ron Pearlman), os dois espíritos guardiões dos Reinos dos Mortos. Existe uma diferença entre esses reinos: o regido por La Muerte é colorido e há festa todo dia, afinal ela reina sobre a Terra dos Lembrados. Xibalba foi condenada a reinar sobre a Terra dos Esquecidos, um lugar triste e sombrio, onde vão os espíritos que não tem ninguém vivo para lembrar-se deles - e que aos poucos, eles desaparecem da existência. Em um Día de Los Muertos, eles se reencontram e decidem apostar uma troca de reinados: se Xibalba ganhasse, iria para o Reino dos Lembrados, e teria direito a sair do lugar horroroso em que vivia. Então, eles escolheram três crianças, três amigos tão diferentes entre si quanto possível - mas que resumiam muito bem o que seria a Humanidade. Manolo (Diego Luna), o filho do toureiro mais famoso de Vila Real, descendente de uma linhagem famosa de toureiros, que tinha a música no coração; María (Zoe Saldanha), a filha do prefeito, corajosa e encrenqueira, que se indignava com as injustiças contra animais e uma feminista em formação; e Joaquín (Channing Tatum), o filho de um grande herói da cidade - o único soldado capaz de proteger a cidade do terrível criminoso Chacal (Dan Navarro) - .e que vivia à sombra da expectativa de todos para que pudesse ser exatamente como ele.
La Muerte aposta no coração bom de Manolo, e Xibalba resolve dar uma ajudinha a Joaquín: entrega-lhe uma medalha da Imortalidade, o que significa que nenhum mal pode acontecer a ele em combate. Uma pequena trapaça, mas ele estava realmente querendo sair daquele lugar horrendo. Os três se separam depois que o prefeito manda María estudar em um colégio interno na Espanha logo depois de ela ter causado um rebuliço na cidade ao libertar todos os porcos que iriam para o abate. Anos se passaram até que ela voltasse, e agora Joaquín era um grande herói, maior que seu pai. Ia de cidade em cidade instaurar a paz e expulsar os bandidos, sempre à procura de Chacal, sempre ganhando medalhas de honra. Manolo estava prestes a estrear na arena e ser o novo grande toureiro da família Sanchez. Mas o coração bom de Manolo é contra a crueldade da tourada, assim como sua amada María era contra a maldade com os porcos, e sua maior ambição da vida é apenas seguir seu coração: e seu coração clama por música, e por María. María também não é a mais uma garotinha, agora ela é um mulherão, linda, sensual... E cheia de personalidade, para a tristeza de seu pai. A disputa pelo coração dela se acirra, e Manolo e Joaquín vão usar de todo os seus dons para conquistá-la, decidindo, assim, o destino do mundo dos Mortos.
Adorei o fato de o filme ter um humor tão aflorado, especialmente por tratar de um assunto que assusta adultos e crianças: no fundo, o filme fala de como lidar com a morte, e o que fazer de sua vida para que ela não tenha sido em vão. Ok, pode até ser um tema muito batido. Mas ser tratado de uma forma tão lúdica e divertida faz valer o ingresso e a pipoca. A animação é tão rica e bem feita que empolgaria até os menos entusiastas do gênero - desde Procurando Nemo eu não ficava tão deslumbrada com as imagens que via na telona. As texturas dos bonecos é incrível, eles parecem de madeira de verdade - e é super fofo ver as rugas no rosto da Vovó Sanchez. O mundo colorido do reino de La Muerte é uma festa de verdade, e até nos lembra de um outro mundo dos mortos colorido e divertido que foi visitado por um vivo em outra animação famosa, mas é mexicanamente diferente - e, me arrisco dizer, muito mais legal. Todos os personagens são carismáticos, há números musicais deliciosos (destaques para as versões de Creep, do Radiohead, e de Can't help falling in love with you, de Elvis Presley), muito bom humor. Inspirado na tradição mexicana de festejar o Dia dos Mortos com uma naturalidade ímpar, e uma oportunidade de ser feliz ao invés de nos deixar ainda mais tristes já que não somos imunes à saudade, Festa no céu é um prato cheio para quem busca um pouco de diversão sem compromisso, que deixa um gostinho de quero mais. Mais do que só um filme fofo, é uma celebração à cultura mexicana, à vida e ao amor.
0 comentários:
Postar um comentário