Columbus (Columbus, 2017) é o típico caso de um artista que se deixa inspirar pelo ambiente e o transborda na sua arte. O diretor coreano naturalizado americano Kogonada se apaixonou pela cidade de mesmo nome e dela sentiu fluirem tema, estória, personagens. E que conflitos e reflexões uma visita a uma pacata cidadezinha no interior dos Estados Unidos pode refletir! É nesse delicado viés que o filme transita.
Casey (Haley Lu Richardson, maravillhosa) é uma jovem apaixonada por arquitetura. Sua cidade é basicamente a meca para arquitetos e amantes da arte: vários prédios de influência modernista acabam por costurar a vida pacata e sonhadora da garota com a de Jin (John Cho, excelente). Ele é filho de um renomado arquiteto, que estava na cidade para uma palestra quando teve um mau súbito e precisou ficar internado. Os dois não podiam ser mais diferentes nem mais parecidos.
Uma forte amizade nasce em torno da presença/ausência dele. Casey sonha em ser arquiteta, ou ao menos uma guia de turismo especializada em arquitetura; ele não suporta mais o tema por ter sido (talvez) a única paixão de seu pai. Conforme ela se demonstra encantada e conhecedora, ele sente a evidência do quanto essa paixão que ela também reflete o afastou do pai. A diferença de idade entre eles também traz outra visão sobre a cidade, porém não da maneira que se espera. Ele não quer ficar por lá, ela não pensa em sair.
E essas diferença se evidenciam, se aprofundam e, estranhamente, os aproximam. É como se os dois fossem a versão que o outro gostaria de ser, na ilusão de que a vida teria sido bem mais fácil se assim o fora - apesar de focar evidente que não seria.
A forma delicada com que o diretor conduz a narrativa expressa o seu receio quanto ao sutil equilíbrio entre vida e morte - mesmo que dentro de si próprio - e a inevitabilidade das coisas é tocante. A fotografia não podia deixar de ser menos caprichada, especialmente em um filme que tem a forte estrutura modernista como pano de fundo e metáfora, e o elenco não podia ser mais acertado.
Columbus é um filme de arte, sutil como poucos. Não há arroubos cênicos, nem um ritmo descontruído - é a sensação da existência passando, às vezes até mesmo da perda de tempo em não fazer acontecer nada. É intenso, e pode não ser perfeito - mas é equilibrado, exatamente como a arquitetura modernista. Uma experiência diferete, especialmente para quem está acostumado a só ver blockbusters de roteiros saturados e repetitivos. Merece a sua atenção e, principalmente, a sua reflexão.
0 comentários:
Postar um comentário