50 São Os Novos 30 (Marie-Francine, 2017) chega aos cinemas brasileiros como uma ótima opção para quem quer se divertir e refletir ao mesmo tempo. Com uma sinceridade cortante e um humor agridoce, Valérie Lemercier protagoniza essa estória de autoconhecimento que ela também escreveu e dirigiu. Aliás, essa múltipla visão de Lemercier como atriz, roteirista e diretora se reflete muito bem nas diversas camadas dos personagens, o que dá o toque especial dessa deliciosa comédia romântica francesa.
O mundo de Marie-Francine (Lemercier) está prestes a desabar, mas ela nem faz ideia: dedicada ao seu trabalho, ela mal percebe que o marido, Emmanuel (Denis Podalydès), quer acabar com o casamento. Depois de receber a notícia bombástica, ela decide sair de casa. A tarefa, porém, não será tão fácil: desempregada e sem condições de conseguir manter o novo aluguel, sua única opção é voltar para a casa dos pais. Não bastasse estar no fundo do poço, ela ainda é obrigada a viver com as comparações constantes com a irmã gêmea Marie-Noële, bem sucedida e queridinha dos pais.
Marie-Francine (Lemercier): entre as quinquilharias para se vender online |
Então, de uma hora para a outra, ela se vê completamente fora da sua zona de conforto. As filhas já não dependem dela, os pais tentam empurrá-la para outros namorados, recusas de emprego. Com tudo saindo do seu controle, Marie-Francine acaba aceitando uma "ajuda" de seu pai: mesmo a contragosto, começa a trabalhar na loja de cigarros eletrônicos do bairro (um projeto "genial" de seu próprio pai). E é ali que ela conhece Miguel (Patrick Timsit), o chef do restaurante ao lado.
Miguel também passa por uma situação parecida: voltou a viver com a mãe portuguesa e o filho em um apartamento minúsculo, além de ter que trabalhar em um restaurante que não é dele - e onde o gerente não entende nada de seu talento. E em meio a conselhos amorosos truncados e indiscrições generalizadas, acompanhamos a amizade entre os dois crescer e se transformar.
Marie-Francine e Miguel (Timsit): como não amar esses dois? |
O maior trunfo de 50 São Os Novos 30 é o carisma dos personagens: não tem como não se afeiçoar à Marie-Francine ou Miguel. Eles são reais, gente como a gente - sem excessos, consciente e deliciosamente imperfeitos. E, apesar disso, os personagens sabem rir de si próprios (o que é um alívio e um alento). As situações são absurdas não ao ponto do inacreditável, mas duramente reais: algumas das palavras mais ácidas que Marie-Francine ouve, por exemplo, são de sua própria mãe - mas nem por isso ela se torna uma carrasca por dizê-las. Além disso, a forma verdadeira e sem grandes atos de heroísmo com que a protagonista enfrenta seus dilemas a torna real: uma pessoa que luta como pode, com as armas que tem, que nem sempre consegue enfrentar as situações, mas que ainda não se deu por vencida.
O riso vem fácil nessa comédia romântica leve e divertida, especialmente pelo olhar sagaz das roteiristas Lemercier e Sabine Haudepin: expondo aqueles preconceitos cotidianos, as hipocrisias que às vezes fazemos questão de ignorar e as dificuldades que todo recomeço enfrenta, ambas criaram um gostoso microcosmo atual. O elenco maravilhoso também cria nuances divertidíssimas para os principais personagens que cercam Marie-Francine: além de Timsit e do impagável Podalydés, destaco as interpretações de Helène Vincent e Phillippe Laudenbach. Eles dão vida aos pais de Marie-Francine, literalmente - e a gente se diverte vendo como eles tentam se ajustar à volta da filha.
Marie-Francine com os pais: cafés da manhã recheados de conselhos amorosos |
Diversão garantida para toda a família, uma ótima opção para quem quer fugir dos jogos da Copa do Mundo - ou comer uma pipoquinha depois da maratona de jogos.
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