Lizzie (2018) estreia nessa quinta como mais uma versão para o estranho e conturbado caso Lizzie Borden: um crime real que já virou parte do folclore americano, a história dos assassinatos em uma família rica e a absolvição da principal acusada dos crimes - a própria herdeira Borden. Dessa vez, o diretor Craig William Mcneill explora a suposta parceria entre Lizzie e sua empregada para a ocorrência dos brutais assassinatos e uma visão mais realista dos dilemas enfrentados pelas mulheres no século 19.
Lizzie (Sevigny) ouvindo os planos do pai para sua herança: mulheres com pouquíssimos direitos |
Lizzie Borden (Chloë Sevigny, que também é produtora do longa) é a filha mais velha de Andrew (Jamay Sheridan) e vive com a irmã, Emma (Kim Dickens), e a madrasta, Abby (Fiona Shaw), em uma confortável casa em Massachussets. A educação severa do pai coibia a voluntariedade de Lizzie, que se sentia cada vez mais presa à casa e aos costumes. Quando a nova governanta, a irlandesa Bridget Sullivan (Kristen Stewart), chega à casa, Lizzie encontra na dedicada e discreta jovem uma amiga e confidente, que aos poucos se tornará algo mais importante para ela. Ao saber do assédio que Bridget sofre de seu pai, Lizzie tenta ajudar como pode. Mas ao ter seu romance descoberto, o pai decide levar adiante sua decisão de tirar a herança da filha mais velha e dá-la a seu cunhado, John Morse (Denis O'Hare). Inconformada, Lizzie planeja - e executa - sua vingança com a ajuda de Bridget.
O suposto romance entre Bridget (Stewart) e Lizzie é mostrado como a motivação |
A parte mais interessante em si é a macabra história relatada - a real, cheia de confusões e suposições. Um caso jamais esclarecido, onde nenhuma evidência foi levada à prova e o julgamento, que levou menos de uma hora, inocentou a problemática herdeira Borden das acusações do violento assassinato do pai e da madrasta. O roteiro de Bryce Kass costura uma boa versão da lenda, com muitos elementos originais expostos: a péssima relação com o pai e a madrasta, os pombos, o testemunho da governanta, mas opta por focar na descoberta do relacionamento íntimo de Lizzie e Bridget como o principal motivo para os assassinatos. Em outras versões, a jovem assassina, além de ter performado os ataques sozinha, tinha traços mais sádicos e era mais polêmica - pois apesar de sua aura de boa moça, era impetuosa e contestadora.
Lizzie observa o pai morto: o sangue-frio dela é mais chocante que a morte violenta |
Contado do ponto de vista da protagonista, o filme não poupa o espectador das mortes violentas (e mesmo que seja parte do mistério que nenhum vestido de Lizzie tenha sido encontrado manchado de sangue, é bastante apelativo - e um tanto incongruente - colocar as protagonistas nuas em cena apenas com o objetivo de "explicar" o porquê de não haver essa evidência). Mas nem isso deve garantir a satisfação do público, pois em boa parte da trama há mais espaço para o drama pessoal da personagem do que para seu instinto assassino. Assim, os fãs de um filme mais sanguinolento e de terror (como o poster pode sugerir e confundir o espectador de última hora) vão encontrar uma obra bem diferente do que esperam.
Graças aos seus mistérios, a história de Lizzie Borden tornou-se uma verdadeira lenda, que continua viva no imaginário dos norte-americanos e volta-e-meia é revisitada. Lizzie é uma versão até bem estruturada do tema, mas que, como entretenimento, carece de ação e um propósito mais forte da protagonista para convencer o público que sua selvageria foi justificada - ou até mesmo desmensurada.
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