Eu sempre quis ser amiga de Ferris Bueller. A impressão que eu tinha toda vez que assistia a Curtindo a vida adoidado é de que ninguém sabe se divertir tanto quanto ele. E, ainda hoje, ele continua sendo mestre. Ou você acha pouco convencer os pais de que está doente para matar aula, irritar a irmã, resgatar a namorada na escola, passar um trote no diretor, roubar a Ferrari do pai do melhor amigo, entrar num restaurante chique com identidade falsa, entre outras coisas, antes mesmo que o dia escureça? E o melhor: sem sofrer nenhuma consequência por isso. É ou não é o sonho de todo adolescente?
John Hughes sabia disso muito bem, e não foi à toa que ele escreveu e dirigiu tantos sucessos jovens nos anos 80 como Clube dos cinco, Gatinhas e gatões e Mulher nota 1000. E, ao contrário dos adolescentes das décadas seguintes, que tiveram que se contentar com comédias descerebradas e sem inspiração, essa geração pôde, ao menos, contar com um artista que tinha sensibilidade para falar do assunto. Seus personagens são gente como a gente, com dúvidas sobre que carreira seguir, com problemas com os pais, sem grana e com muita vocação para fazer besteiras. E ninguém precisa insultar sua inteligência para falar disso tudo, como prova Hughes.
É por isso que o personagem de Matthew Broderick (o papel vida dele, vamos combinar) é inesquecível até hoje. Com aquela carinha de bom-moço, ele é a alma do filme: irresponsável, irreverente, divertido e nem um pouco politicamente correto, graças a Deus. Mas o que seria dele sem seu parceiro de crime, o inseguro Cameron, ou a namorada cúmplice, Sloane? E ser inconsequente não teria a mesma graça se não fosse para provocar a irmã certinha, Jeanie, ou enlouquecer o diretor Ed Rooney. Levante a mão quem é que conhece pais como os de Ferris, que acreditam piamente em tudo que dizem seus filhos! E a participação de Charlie Sheen como o jovem delinquente na delegacia, que termina no maior amasso com Jeanie? Puro luxo.
Eu sempre quis ser amiga de Ferris Bueller. Vai, confessa, você também.
1 comentários:
Hahaha... Pior que, em certo nível, eu tentei ser o Ferris Bueller... :P
Óbvio que não consegui sequer chegar perto do sucesso dele, mas sem dúvida acabei vivendo bem mais intensamente do que eu mesmo esperava. :)
"Save Ferris!"
Mas falando em John Hughes, acho que você está pra lá de certa. Poucos expressaram tão bem as angústias dos (pré)adolescentes da década de 80 quanto ele, mas não sinto que ele receba os devidos créditos por isso.
Me parece uma certa injustiça com quem se dedica a obras para jovens; na literatura nacional eu percebi agora um paralelo com o Marcos Rey ou até mesmo Pedro Bandeira - lembrando que, ao menos aqui em São Paulo, a morte de ambos mal foi anunciada pela mídia.
Adorei a homenagem que vocês estão fazendo ao Ferris Bueller e, por consequência, ao John Hughes. :)
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