Sabe aquela sensação de "tem alguma coisa errada..."? Pois é. Imagine chegar à sua cidade natal, depois de algum tempo fora, e perceber que as pessoas que você conhece há anos não são mais as mesmas. E não simplesmente porque você mudou ou porque os anos passaram e, como tudo na vida, mudou um pouco. Mudou completamente porque essas pessoas não são mais elas mesmas - são recriações perfeitas delas mesmas, mas sem emoções.
Em Vampiros de almas (Invasion of the body snatchers) nós acompanhamos o relato de uma história fantástica, absurda, de um homem completamente transtornado. A princípio, tomado por louco, ninguém acredita nele. Somente quando um psicólogo é chamado e lhe dá atenção, ele enfim conta sua impressionante história. Afirma não ser louco, e que é importante que ele seja ouvido com atenção. Relata, então, as mudanças ocorridas na pequena Santa Mira, onde pessoas se curam sozinhas e rapidamente, sem ajuda de medicamentos, e de uma suposta histeria coletiva que faz com que pessoas não reconheçam seus familiares e amigos. A coisa fica ainda mais intrigante quando um corpo, aparentemente sem identificações nem marcas que indicassem sua causa mortis aparece na casa de um amigo. Instigados a solucionar a situação, o dr. Bennell (Kevin McCarthy), Becky Driscoll (Dana Winter e os amigos Jack (King Donovan) e Teddy Belicec (Carolyn Jones), os únicos na cidade que parecem não ter sido acometidos da tal histeria coletiva se unem e começam a desvendar o mistério.
A cidade inteira correndo atrás dos últimos humanos da cidade
É angustiante acompanhar o desenrolar dessa história fantástica. Você fica sem saber o que acontece, chega a pensar que só está realmente acompanhando a história de um louco ou bêbado. Mas aí vem a revelação: as pessoas estão sendo substituídas por réplicas delas mesmas, mas sem emoções. Seus corpos são reproduzidos por sementes alienígenas, que podem reproduzir qualquer coisa que esteja por perto, mas os corpos produzidos não possuem memória. Como proceder? Simples, espera-se que os originais durmam e roubam-se as mentes. Agora imagine que você descobriu isso e a cidade toda está no seu encalço, e você está morto de cansaço - mas não pode dormir, ou perderá a guerra - e sua namorada e seus melhores amigos não conseguiram resitir por muito tempo, então você tem que contar pra todo mundo que todos estão em perigo, mas ninguém te ouve... Parece ou não um pesadelo? Pra mim, é um dos piores. E, com certeza, foi ruim também pro pobre dr. Bennell.
Fiquei com essa sensação, enquanto assistia ao filme, de querer acordar pra ver que tudo era só um pesadelo. E também achei que o doutor sentiu a mesma coisa. Sabe aquela história de "repetir uma mentira tantas vezes até que ela vire verdade"? Acho que ele passou por isso, porque ninguém acreditava nele. Por isso entendi o alívio que o dr. Bennell sente, na cena final do filme, ao ver que nada daquilo era um sonho ou loucura, mas era verdade e que ele tinha conseguido. Conseguido resistir, sobreviver, alertar o mundo, manter a sanidade, manter a humanidade. Aliás, interessantíssimo o ponto de vista que nos diferencia das outras coisas do mundo por uma única razão: temos sentimentos. Mesmo se forem os piores sentimentos, são eles que nos fazem ser humanos - e não réplicas moldadas numa semente leguminosa alienígena. Sensacional.
É por isso que eu procuro não julgar o que é estranho ou não. É óbvio que há coisas estranhas "demais da conta", mas acho muito mais estranho ser tudo muito normal. Ser normal é legal, mas normalidade demais é muito estranho. Fica a pergunta: se ser diferente é normal, e ser normal é muito estranho, como diferenciar o que é estranho e o que é normal?
*Não pude resistir à piadinha infame, mas aposto que, depois de assistir a esse filme, muita gente vai deixar de contar pras crianças que elas nasceram de uma sementinha...
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