Areia, vento, mais areia, sol escaldante, tempestade de areia, sede, mais areia... Incrível como a personagem Lawrence (Peter O'Toole) fica fascinada por isso. Um soldado culto, refinado, sem gosto para a guerra, acaba se envolvendo nela por seu interesse na política e tédio no Q.G. onde trabalhava. Antes ele tivesse ficado quieto por lá. Mas ele não poderia ficar mais ali, ele queria mais. Desejava estar no deserto, fazer algo grande e significativo. Ele fez. Mas pagou muito caro por isso.
Já dizia o ditado que se deve tomar cuidado com o que se deseja. Lawrence desejava fazer algo bom, mas acabou tomando outro caminho. Apesar de sua inteligência privilegiada e de sua astúcia, não pode fugir das consequências terríveis que ele previra. Sabia que teria que enfrentar o mar de areia e a terra seca a perder de vista; que, se provocasse na medida certa as tribos, elas se uniriam; mas não contava com o que ele ia encontrar no deserto: enfrentar seus próprios demônios no calor infernal do deserto, com pouca água e uma obstinação absurda. E o que ganhou em troca foi uma arrogância que só aumentava a cada vitória - nem mesmo seu amigo e admirador Ali (Omar Sharif, em interpretação emocionante) o reconhecia mais.
A gente sempre fica na dúvida sobre o que Lawrence realmente quer. Ele está a favor de quem? O que ele quer? Está enganando a todo mundo ou só a si mesmo? Ele quer ser reconhecido ou é realmente um cara obstinado e humilde, simplesmente? Queria ele ser herói ou foram as circunstâncias que o levaram a ser reconhecido? Mocinho ou bandido? Oficial ou árabe?
A personalidade enigmática de Lawrence é o fio condutor do filme, e como tal, o próprio filme tem altos e baixos. A história é ótima (ainda mais interessante depois que descobri que é baseada em uma biografia, ou seja, Lawrence realmente existiu e fez todas essas coisas e ainda mais), mas o filme é lento demais. Acredito que seja para reforçar a idéia da vastidão do deserto e da desolação que dá viver numa terra tão árida, tão perigosa, tão solitária. Algumas sequências são lindas, épicas, mas outras eu acho desnecessárias. Talvez a versão exibida em 1963, com 35 minutos a menos de duração, fosse mais interessante e menos cansativa. Peter O'Toole faz um Lawrence convincente, mas bastante teatral. Antony Quinn está no tom perfeito com Auda abu Tai, o líder da tribo que decide tomar Aqaba "não porque Lawrence disse que ele teria, mas porque foi sua vontade". E o mais melhor em cena, apesar de aparecer pouco, é Omar Sharif - líder temerário, torna-se amigo de Lawrence e confia em seu julgamento, interessa-se por política por acreditar em seu sonho. Ele acompanha de perto as mudanças que o deserto fez em Lawrence. Tenta ajudar o amigo a suportar a dor de perder seus ajudantes, mas sente por tê-lo visto se transformar em um homem amargurado, quase louco, à beira do colapso.
A vida não é fácil pra ninguém, mas me parece pior para aqueles que tem que viver em situações tão adversas quanto sobreviver no deserto. Almejar algo melhor é bom e importante, e não dá para medir as consequências de seus atos com precisão. O tenente Lawrence descobriu isso da pior maneira possível. Todos querem paz (até mesmo os generais), mas não cabia a ele consegui-la. Como o próprio Príncipe Faiçal diz ao final do filme, os jovens fazem a guerra e os velhos acertam os detalhes. Para mim, ninguém ficou satisfeito: nem a Inglaterra, nem a França, nem o Príncipe, nem arábes, nem turcos. Todos saem perdendo.
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