Pra mim, o melhor de Um corpo que cai é que são dois filmes em um. É delicioso perceber que, na sua primeira metade, Hitchcock brinca com a plateia nos fazendo crer que se trata de um drama psicológico, bem perto de resvalar para... uma novela mexicana. Aí olhamos intrigados para a tela, nos perguntando: estamos vendo o filme certo? Porque a trama de uma jovem que está sendo influenciada pelo fantasma de uma antepassada e tenta cometer suicídio como ela não se encaixa muito no perfil de um suspense tradicional. E pode dizer que você também estava começando a pensar que tudo fazia sentido...
E é nesse ponto que ocorre a jogada de mestre: em determinado momento, descobrimos que tudo não passa de um plano maior, e que fomos tão enganados quanto o protagonista. Claro que ser feito de bobo não é das sensações mais agradáveis, mas se tratando de cinema, é algo que eu adoro. Só assim percebemos o quanto somos atraídos por falsos detalhes e nos deixamos envolver pela narrativa com uma facilidade incrível. Claro que tem gente que prefere assistir a filmes tentando achar defeitos, adivinhar o assassino, matar a charada antes da pessoa ao lado. Mas eu adoro ser espectadora! Quero mais é que me surpreendam! E Hitchcock faz isso muito bem.
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As sacadas do roteiro (tudo começou por causa do medo de altura de John, lembram?) e as boas atuações ajudam muito. Dá peninha ver a obsessão dele por sua antiga paixão, e do jogo que ele faz com Judy, querendo transformá-la em Madeleine a qualquer custo. Ao mesmo tempo em que é cruel, a gente pensa: bem que ela merecia! E o final não poderia ser mesmo muito diferente...
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