Para mim, Os incompreendidos pode ser resumido em uma palavra: amizade. Porque, acompanhando a trajetória do pequeno Antoine (Jean Pierre Léaud), vamos descobrindo que a vida em casa pode estar um caos, você pode se decepcionar com as pessoas ou não receber o respeito que merecia, a escola pode não ser o lugar mais agradável do mundo em certos momentos, e você pode acreditar que muitos dos seus sonhos não vão se tornar realidade tão cedo, mas ter alguém com quem contar é fundamental. Quer cena mais bonitinha do que René (Patrick Auffray) roubando comida para o amigo, escondido em sua casa? Ou saber que ele tentou visitá-lo no reformatório, mesmo sabendo que seria proibido de entrar?
O filme é melancólico, sim, do começo ao fim. Não dá pra ser indiferente às coisas que acontecem na vida do protagonista, desde o falso clima de felicidade no ambiente familiar à chegada ao reformatório. Não sem antes dividir uma cela de delegacia com criminosos que cometeram sabe-se lá o quê. Ok, ele fugiu de casa e realizou pequenos furtos, mas era só uma criança, que precisava de atenção e um pouco de orientação. E com isso ele não podia contar.
Apesar desse clima, há algumas cenas divertidas, que ajudam a aliviar a tensão, como a de Antoine zombando do professor de inglês por ter a língua presa. Mas a minha sequência favorita mesmo é aquela em que ele acende uma vela para Balzac para tirar boa nota em redação. Vale o filme inteirinho! Para completar, quase provoca um incêndio em casa (sem querer, é verdade) e recebe uma boa bronca do pai. Tem horas que só o humor salva.
O desfecho, embora mais enigmático do que eu gostaria, é bem poético. Finalmente, Antoine conhece o mar que tanto sonhava. Mas o recorte da infância do protagonista é bem fechado, e Truffaut não dá nenhuma pista do que vai acontecer em seguida. Incomodou um pouco, vai, mas só um pouquinho. Pra mim, Antoine ali já é uma pessoa totalmente diferente, finalmente livre. Livre do reformatório, dois pais indiferentes e com um infinito de possibilidades à sua frente. Os incompreendidos mostra que, para ser um bom cineasta, é preciso sensibilidade. Quer dizer, isso a gente precisa para ser qualquer coisa, né? Pena que esteja em falta hoje em dia.
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