Antoine, o incompreendido: história para amolecer corações de pedra
Mais um filme francês de nossa lista, Os incompreendidos (Le quatre cent coups, 1959) está longe de ser "mais um filme francês". Tudo bem que é de nouvelle vague que estamos falando, mas esse filme conseguiu prender minha atenção, sem ficar cansativo em nenhum momento. Aqui acompanhamos a triste história de Antoine, um menino muito pobre que vive encrencado na escola e que tem um lar perturbado. Um dia, enquanto cabulava aula com seu melhor amigo, encontra sua mãe na rua aos beijos com outro homem. Isso muda dramaticamente sua vida.
Se antes ele saía com seu amigo para passar a manhã num parque de diversões, como qualquer criança já fez (ou sonha em fazer), agora ele tem a idéia fixa de que seu lar nunca mais será o mesmo e que ele precisa sair de lá. Para isso, passa a cometer pequenos furtos. E nós acompanhamos a transformação na vida desse menino, que levava uma vida dura e triste, e que agora é um rebelde. Enquanto a mãe tenta comprar sua confiança e manter segredo sobre a sua infidelidade, ele arquiteta com o melhor amigo um jeito de se virar sozinho. Ao roubar uma máquina de escrever (e não conseguir vendê-la), acaba sendo preso e condenado ao reformatório.
O filme é triste, imaginar a solidão em que o menino vivia é de cortar o coração. Mérito do pequeno Jean-Pierre Léaud, fantástico como o pretagonista angustiado. As cenas que mais me marcaram, em sua interpretação, são quando Antoine está sendo levado para o reformatório e chora ao ver a cidade iluminada por trás das grades e a do interrogatório, já no finalzinho do filme. A direção é segura, apesa de ser um filme de estréia de diretor (Truffaut não é considerado mestre à toa) e as tomadas são lindas e inteligentes, contrastando com a brutalidade do que se vê em cena. Não sei se acontece com todo mundo, mas ainda fico chocada quando vejo cenas de escolas em filmes antigos, quando os alunos eram humilhados na frente da classe inteira e saber que essa era uma realidade, o respeito adquirido pelo medo. Devo frisar que não concordo com a realidade atual, onde os alunos se acham no direito de agredir professores - acho que deve existir respeito mútuo, os alunos devem ser vistos como seres humanos e futuros cidadãos e professores devem ser admirados e respeitados por seu conhecimento.
Mais uma vez não compreendi o final. Esperava ao menos uma indicação do que aconteceria com Antoine. Ele manteve o coração bom e puro apesar da violência sofrida, merecia, ao menos, o caminho da redenção. Não que eu esperasse ver um final de conto-de-fadas, mas algo mais definido. Dá para perceber que ele não pararia, até atingir seu sonho (a metáfora é clara, ele foge e corre até ver o mar, o que ele mais queria). Mas... Qual era o sonho de Antoine? Infelizmente, para mim, faltou isso para que ele deixasse de ser um incompreendido.
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