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Uma história de amor macabra



Eric (Lee) e Shelly (Shinas): uma amor para além da vida
Posso dizer que me surpreendi com O Corvo (The Crow, 1994). Para início de conversa, conhecia o mínimo sobre ele - a triste coincidência da morte de Brando Lee, estética gótica, vingança com as próprias mãos. Achava que o romance seria somente o mote para o massacre, a vingança desenfreada, a carnificina. E não é isso o que acontece. Na tela, a gente entende porque Eric Draven (Lee, em performance surpreendente) volta do túmulo para vingar a morte brutal de sua amada Shelly (Sofia Shinas). Eles não eram o protótipo de casal perfeito, mas tinham em seu apartamento uma cápsula em que o mundo era perfeito - colorido, sorridente, aconchegante, cheio de amor. Tanto que a menina Sarah (Rochelle Davis) preferiu adotá-los como família em vez de continuar sofrendo com a mãe viciada.

É Sarah quem narra o início do filme, quando acompanhamos os policiais recolhendo o corpo de Draven do chão, após ter sido jogado pela janela pelos quatro bandidos que foram amedrontar o casal depois de reclamarem de algumas regras de inquilinato (a vida imita a arte, a arte imita a vida...) e de terem estuprado Shelly - que ainda foi encontrada com vida, mas não resistiu aos ferimentos. Uma tragédia no dia da véspera do Halloween, conhecido como "A noite do diabo". Uma organização criminosa estava por trás dos incêndios que assustavam a cidade e davam poder à ela pelo medo que causavam à população. O policial Albretch (Ernie Hudson) acompanha o resgate do casal, que se casaria no dia seguinte, e consola Sarah. Mas ela não deixa se enganar, sabe que a situação de seus amigos é irreversível. Desolado com a violência , o sargento Albretch até tenta investigar o caso - mas é embarreirado por seus superiores e não consegue muito mais pista em campo porque nas ruas havia o medo de represálias. 

O Corvo obtendo sua vingança: era só o início
Um ano se passou, Sarah não havia esquecido. Continuava a visitar os túmulos de seus amigos, sua mãe continuava a se drogar, Albretch continuava seu amigo. Então (sem maiores explicações, e isso incomodou um pouco), na noite do diabo, Eric volta à vida sob o chamado de um corvo. Guiado pelo bicho, ele volta à sua antiga casa, e lembra-se de tudo o que aconteceu. Decide se vingar matando todos os envolvidos no crime ocorrido em sua casa. Descobre que não pode ser morto, uma vez que seus ferimentos se curam sozinhos. Então parte para a caçada. Em um beco escuro, encontra o primeiro assassino: após fazê-lo se lembrar de seu crime, o mata com suas próprias armas, uma boa meia dúzia de facas cravadas no peito, e deixa sua primeira marca: um corvo, desenhado com o sangue do criminoso, na parede. Continuando sua busca implacável aos seus assassinos, Draven vai até uma loja de penhores, em busca do anel de noivado que era de Shelly. Lá, ele mostra que não voltou da morte para causar terror aleatório - somente queria vingar aqueles que cometeram a violência contra ele e sua amada. Draven deixa o gerente do local vivo, mas pede para que um recado seja passado ao restante do grupo, de que 'a morte chegaria para eles'.

A marca do corvo após os assassinatos
Após a explosão do lugar, o tal gerente vai ao chefão do tráfico, o que organiza os incêndios todos, somente para causar terror: um homem esquisito, com uma irmã mais esquisita ainda, que tem aquela aura de 'senhores da magia negra'. Quando outros dois morrem (uma amarrado ao carro cheio de explosivos que ele utilizaria para assombrar a cidade, e o outro é encontrado morto com uma bando de seringas de heroína cravadas no peito), ele começa a se incomodar com a presença desse justiceiro. Mas a irmã se fixa mais na ideia de ele não poder morrer - ela acredita que isso possa ser passado para eles, então ele vira objeto de interesse dos irmãos. Numa reunião com a nata do crime, o único sobrevivente do grupo que matou Eric e Shelly, é convocado a participar. Ele era o chamariz para que o Corvo aparecesse. E não deu outra, ele aparece - mas não queria que ninguém mais fosse envolvido, somente queria a vida do último carrasco da sua. Quando o chefão decide protegê-lo, ele sentencia todos à morte. Aí sim temos uma carnificina, tiros comendo pra todo o lado sem maiores explicações a não ser o espetáculo do duelo. No fim das contas, o chefão e a irmã fogem, e o criminoso foi morto, atirado pela janela - assim com Eric foi. E quando ele tenta buscar a paz, voltar para seu túmulo e sua amada, já com a missão cumprida...

Os irmãozinhos sinistros: querendo a imortalidade de Draven para si

O tal chefão não pensava da mesma forma. Queria o poder da imortalidade para si. Usam Sarah como isca para atrair o Corvo para a igreja e lá matá-lo. A tentativa de atingir o corvo para acabar com a imortalidade de Eric dá certo, e a irmã sinistra consegue capturar a ave. Eric está gravemente ferido, e só não é eliminado porque o sargento Albretch acaba por aparecer e dar cobertura para ele. O vilão foge com Sarah para o telhado da igreja, Albretch é atingido por um tiro, a irmã sinistra tem os olhos comidos pelo corvo (adorei essa cena), e cabe a Eric, ferido e quase morrendo pela segunda vez, salvar a vida de sua amiga. Depois de muita luta, o vilão consegue ferir Eric com uma espada, um ferimento mortal. E assume sua parte de culpa na primeira morte dele, pois foi ele quem mandou o grupo para o apartamento de Eric e Shelly. Indignado, Eric usa sua última arma contra o último responsável por sua morte: ele reverte para este o sofrimento que sua amada teve no hospital (que ele conseguiu sentir quando tocou os olhos do sargento, quando ainda queria  mais informações sobre seu assassinato). Vilão derrotado, Sarah salva, finalmente a paz e sua amada, vindo buscá-lo para que finalmente tivessem descanso.


Cena já com dublê: rosto de Draven não aparece
Um filme gótico, de estética estranha, mas com uma história bem contada. É bem verdade que o chamariz para esse filme foi a trágica morte do ator principal durante as filmagens, e por este ser Brandon Lee, filho da lenda das artes marciais e do cinema Bruce Lee. Eric Draven é um personagem interessante, um justiceiro que não abre mão de sua vingança, mas que tem consciência suficiente para salvar a vida de da mãe de Sarah, tirando toda a droga que ela havia injetado em si e a mandando para casa. Mas o filme, em si, é uma bela canção de amor. Tem lá seus defeitos, é meio trash, mas fala com uma poesia surpreendente para um filme tão violento. É tocante quanto ao sentimento, pois o personagem principal não é movido pelo ódio puro, pela vingança desmedida. É mais como uma súplica por alívio, pela paz de espírito. Gostei da fotografia do filme, sombria na medida certa, com efeitos de luz bem colocados... No geral agradou. Talvez não seja um filme memorável, e seu maior chamariz seja a curiosidade de ser o último filme de Lee, e toda a trágica história envolvida. Mas foi uma grata surpresa. Só imaginava, o tempo todo, um bando de brutamontes assistindo a esse filme esperando carnificina e vendo tanta poesia sobre um amor tão forte que ultrapassava os limites da lógica e da vida. Para mim, isso é a prova de que mesmo em corações mais sombrios, ainda existe a  capacidades de amar, ilimitadamente.

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