Assim que chega à cidade de Shinbone, Hallie (Vera Miles), aponta o quão diferente a cidade está desde a chegada da ferrovia. A velocidade dos trens trouxe outro ritmo à cidadezinha do velho-oeste em que ela vivera quando jovem. Assim como os anos, agregaram uma novo ritmo aos expectadores de cinema. Talvez por isso O Homem que Matou Facínora não tenha me agradado tanto quanto deveria.
Não se engane. O filme é bom, entretanto alguns momentos que antes eram construção de personagem, hoje soa como enrolação desnecessária. E não vemos a hora do tal Facínora ser morto e o filme dizer à que veio. Mas já que é preciso construir a história antes...
Apresentada em forma de um grande flashback, contado à imprensa por Ransom Stoddard (Jamies Stewart), durante o funeral de Tom Doniphon (John Wayne), a história logo nos apresenta um tradicional assalto à diligência. Nela o entusiasmado recém-formado advogado Ranson leva uma surra de Liberty Vallence, o tal Facínora. Resgatado e levado para a cidade mais próxima, ele acaba por se estabelecer ali. Ajuda no restaurante das pessoas que o acolheram, no jornal, dá aulas à população, mas apesar de sua natureza pacata vive incomodado com a liberdade de Liberty na região. Ou talvez por descobrir que as promessas de futuro no selvagem Oeste eram mentira.
Ele bem que tenta melhorar as coisas com "lei e ordem", mas as coisas por lá não funcionam assim. É o mais rápido no gatilho quem dá as cartas, Tom Doniphon tem todo potencial para ser este cara, e livrar seus conterrâneos de Valence. Por algum motivo ele parece não estar muito interessado nisso. Mas está interessado por Hallie, é claro que a moça só tem olhos para o recém-chegado advogado.
Por mais improvável que pareça, Tom e Ranson unem forças para tornar Shinbone um lugar melhor. Apesar de disputarem a mesma garota, e terem conceitos de justiça opostos. Fazer justiça, seja como for, parece ser mais forte que suas diferenças. É nessa relação seus resultados, e consequências que a lenda do homem que matou o tal Facínora que o longa se baseia.
O malvado Liberty Valence, que em terras tupiniquins atende pela alcunha de Facínora |
Achou um tanto demorado para explicar de onde o título saiu? (aliais palmas para a escolha do título nacional "Facínora" é a descrição perfeita para o muito malvado personagem que Lee Marvin encarna) Agora imagine tudo isso acompanhado dos tradicionais personagens secundários caricatos como o xerife bonachão, o negro grandalhão obediente. Das estranhas normas eleitorais "estadunidenses", e claro de típicas brigas de saloon. É muita coisa!
Entretanto, se você conseguir não cochilar no meio de tantas coisas, que até interferem na trama principal, mas não são exatamente essenciais, vai descobrir uma crítica sobre a verdade e o mito. E um pouco de desconstrução do próprio gênero que Ford e Wayne ajudaram a formar. A mocinha não é nem um pouco vítima, o cavaleiro solitário é ótimo em fazer amigos, o fracote e pacífico homem da lei é o grande herói, ou é isso que querem que você acredite. É aí que moram os louros da produção, que merece sim um esforço de quem não é fã do gênero, para alcançar o surpreendente (mas nem tanto*) final.
O Homem que Matou Facínora é uma lenda do gênero, mas é fato que os expectadores de hoje podem não enxergar suas virtudes ou acompanhar o seu ritmo. Mas, tudo bem! Afinal, ainda podemos aplicar a mensagem que o longa oferece: Quando a lenda se torna fato, imprima-se a lenda
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