Ser humilde é uma coisa, mas se sentir inferior é outra completamente diferente. Só posso imaginar que Belle, se acha menos importante que suas irmãs, para viver como se fosse uma Cinderela por vontade própria. Um negócio arriscado e seu pai acaba perdendo tudo, e de quebra ainda fica perdido na floresta, ondem conhece um castelo mágico e irrita seu ilustre morador.
Para acalmar os ânimos da Bête (aqui conhecido como Fera), o velho promete retornar ou enviar uma de suas filhas dentro de três dias. Nem precisava o pai cair doente, é claro que Belle, versão gata borralheira, vai para o castelo à galope se sacrificar por seu pai. O resto da história você conhece, a besta se apaixona e torce para a moça se interessar por ele também. Seu nobre coração até à liberta, mediante a promessa de retorno. Mas o retorno da moça à casa, gera mais ambição que contentamento. Suas irmãs, irmão e seu outrora pretendente fazem de tudo para atrasar a moça, chegar na frente matar a Fera e se apossar de sua riqueza. Você já deve imaginar que o plano da errado e o amor vence, mas o curioso é como todo esse processo acontece.
Para um conto que se passa em uma era cristã, e o filme até menciona igreja e bruxaria, é curioso que toda magia venha de Diana, deusa da caça na Roma antiga. Curioso também que a maldição da fera não é quebrada, mas transferida para alguém que merecia uma lição, a Fera renasce com o seu rosto.
A Fera aliais, não me parece ameaçadora em momento algum. Nem mesmo quando suas mãos soltam uma fumaça ameaçadora. Ele deixa seus prisioneiros saírem apenas com uma promessa de retorno. Se não voltassem o que ele faria? Afinal, aparentemente ele não podia sair do palácio. Combina bem com a personalidade oscilante de Belle, em casa coitadinha submissa, no palácio respondona e de nariz empinado.
Tudo isso com uma atuação carregada e dramática, quase como de um filme mudo. Daquelas em que a mocinha grita de pavor antes de graciosamente levar a mão à testa e desmaiar. Não chega a ser um erro, é o estilo escolhido pela produção. Infelizmente tanto a atuação quanto o ritmo da narrativa, não sobreviveram ao teste do tempo.
Produzido na França em pleno pós guerra, o longa precisou driblar a precariedade com criatividade. Assim, conhecemos estátuas vivas e braços humanos que saem das paredes para segurar os candelabros. Quem lembra que mais de 50 anos depois a versão para a tela grande de O Fantasma da Ópera iria reaproveitar este recurso, aposto que não foi a única produção a faze-lo nas décadas que se seguiram.
O final deixa à desejar. Maldição quebrada Belle e Fera voam (literalmente) para o reino onde irão ser grandes rei e rainha e fim. O que acontece com o resto? A maldição do castelo, o pai doente de Belle e principalmente seus irmãos sem escrúpulos?
La belle et la bête não vai entrar para a minha lista de favoritos, mas com certeza deve estar na lista de todo cinéfilo. Apesar do final com "assuntos inacabados", e de uma pequena distorção na lição de moral (Belle só se rende realmente ao amor quando a aparência atende aos padrões) o filme se saiu muito bem nas condições em que foi produzido. Muito bom!
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