Tá na hora de repensar as conversas com as amigas... |
Quando era pequena, ouvia esse ditado e ficava me perguntando o que significava. O que poderia ser tão ruim num desejo? Até porque ninguém deseja o mal para si próprio, não é? Não, óbvio que não. Mas (sempre tem um "mas", né?) e quanto às consequências? Ah, as consequências...
Na pequena cidade de Eastwick vive uma população pequena e pacata, e dentre elas existem três amigas: Sukie (Michelle Pfeiffer), mãe de seis loiríssimas menininhas que foi abandonada pelo marido, Alex (Cher, linda de morrer mesmo com o "cabelo de poodle"), uma artesã viúva, e Jane (Susan Sarandon), uma professora de música que acabou de se divorciar. As três estão levando a vida como podem, mas sentem falta de algo mais excitante em suas vidas - além de mais diversão e alegria, essa excitação inclui, sim, um homem de verdade. E em um estranho dia de chuva, as três acabam por transformar o encontro semanal em um inconsciente ritual bruxo. Sem saber, enquanto elas descrevem o homem que as satisfaria completamente, elas acabam evocando as forças do Universo e atraindo para aquela cidadezinha no meio do nada um forasteiro. Bom, ele não era apenas um homem: era o homem perfeito - para as três.
Quando a esmola é demais, o santo aprende a desconfiar... |
O tal homem chegou causando rebuliço na cidade. Comprou uma mansão que era patrimônio histórico e atiçou a língua ferina da população: quem era aquele homem estranho? Por quê ninguém conseguia se lembrar de primeira o seu nome? O que ele queria na cidade? Pois o que ele queria era justamente conhecer suas meninas. Alex foi a primeira a encontrá-lo. Convidada para um almoço, conheceu a mansão e um pouco da personalidade de Daryl Van Horne (Jack Nicholson, charmoso as hell) - e a primeira impressão que ela tem é igual a da maioria da cidade. Um homem presunçoso, no mínimo, e que teria feito melhor em nem aparecer por aquelas bandas. Mas se ela descobriu só um pouco sobre Daryl, ele parecia conhecer muito da alma de Alex. Suas frustrações, seus desejos mais profundos. Uma mulher forte e decidida como ela não queria mais ser uma fortaleza, e em seu flerte direto, não ousou ser mais forte que ela - apenas demonstrou que poderia ser o porto seguro que ela tanto ansiava. Com Jane, a tática foi diferente. Ela mal conseguia se controlar perto dele, e justamente por isso o evitava. Mas a música corria em suas veias, e tal arte apaixonada exige que seus intérpretes sejam livres para que ela seja inesquecível. Foi isso o que Daryl proporcionou à Jane, liberdade para sentir, para ser apaixonada e apaixonante. Sukie foi a última a ser conquistada (e isso causou um ciúme extremo nas outras duas), mas também não pode escapar do charme daquele homem. Ele não parecia ter medo dela ou se importar que ela já tivesse muitos filhos para cuidar, nada era empecilho para ele vê-la como ela realmente era: linda, especial.
Felicia (Cartwrtight): por que ninguém nunca ouve quem fala a coisa certa? |
Tudo corria muito bem para o grupo, mas os boatos corriam soltos pela cidade. Todos se incomodavam com a presença ligeiramente sinistra de van Horne na cidade, mas poucos falavam sobre isso. Apenas Felicia (Veronica Cartwright, excepcional) falava - e muito! - abertamente sobre o caso. Assim que Daryl chegou na cidade, ela pressentiu que algo de muito ruim estava acontecendo e que o forasteiro era a causa de tudo. E, coitada, ela teve que pagar um preço muito alto por começar a importunar "as meninas". Ainda inconscientes do que faziam, apesar das desconfianças de Sukie, as garotas lançaram um feitiço sobre Felicia: enquanto elas se deliciavam com saborosas cerejas, a pobre e enlouquecida mulher vomitava tudo em casa, para desespero do marido Clyde (Richard Jenkins, sensacional). Ele, sem mais reconhecer a mulher que amava, com medo dos ataques de fúria dela - cada vez mais constantes - acabou por perder o controle de vez. E foi aí que as meninas começaram a perceber que havia alguma coisa de muito errado nessa história e, assustadas, resolveram parar de se ver por um tempo. E pararam de ver Daryl também, o que o deixou muito irritado. E foi aí que nós começamos a conhecer o verdadeiro Daryl - e as verdadeiras Sukie, Alex e Jane.
Daryl (Nicholson): e dá pra não ter medo disso?! |
As bruxas de Eastwick (The witches of Eastwick, 1987) passava direto na Sessão da Tarde quando eu era criança, e eu me lembrava muito pouco do filme. O que eu não esqueci? Cerejas, e a sequência da vingança das garotas. Sério, eu nunca esqueci do pavor que eu tinha quando via Jack Nicholson todo sujo de vômito e penas de galinha chegando na mansão para assustar as garotas - embora tenha esquecido completamente dos efeitos especiais (ridículos) que terminam ela. Não lembrava das piadinhas ácidas e das verdades duras ditas nos diálogos do filme, nem do quão charmoso Nicholson pode ser, nem no quão lindas estavam as três atrizes. Eu lembrava de cerejas e das penas de galinha. Eu morria de medo, mas via assim mesmo. Acredito que quem nunca viu ainda, depois que vir, também vai gostar. Afinal, quem nunca ficou curioso com os resultados de seus pedidos?
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