Interestelar (Interstellar, 2014) é um filme recheado de estrelas - com perdão do trocadilho - e carente de ritmo. São quase 3h dentro do cinema acompanhando o drama de um pai de família, ex-piloto espacial, que enfrenta o dilema de continuar na sua atual vidinha medíocre de fazendeiro ou abraçar a sua última chance de fazer aquilo que realmente nasceu para fazer. Explorando os instintos básicos do ser humano, tentando explicar cientificamente sentimentos e ponderando que exista algo inexplicável e maior que tudo, o drama científico (será que posso classificar assim) chega aos cinemas hoje e vai render alguma discussão sobre a vida, o homem, a ciência.
Num futuro distante, a humanidade está reduzida e luta para sobreviver na Terra, cada vez mais inóspita desde que homem a saturou com explorações além do limite. Agora os fazendeiros são mais importantes que médicos ou engenheiros porque produzem alimento para a população, mas eles encontram dificuldades enormes. Cooper (Matthew McCounaghey, melhor a cada filme) é um desses fazendeiros, e mora numa poeirenta fazenda de milho, das poucas que ainda resistem às pragas. Lá ele cuida dos dois filhos, o adolescente Tom (Timothée Chalamet) e a garota Murph (Mackenzie Foy, a filha de Edward e Bella no tenebroso Crepúsculo - Amanhecer parte II) desde a morte da esposa. Apesar da menina ter uma vocação para a ciência, assim como o pai, ela parece bastante impressionada com o fantasma da casa. Em seu quarto acontecem fenômenos aparentemente inexplicáveis, como livros jogados sozinhos ao chão e criação de padrões na poeira. Acreditando qque o fantasa quer se counicar com ela, Murph começa a decifrar esses códigos, seguindo os conselhos do pai, até que ele mesmo tenha um vislumbre do que está realmente acontecendo. Quando ele resolve seguir a coordenada indicada no quarto de Murph, acaba por se deparar com uma estação da Nasa ainda em atividade.
Lá ele encontra os doutores Brand, pai e filha (Michael Caine, sempre espetacular, e Anne Hatthaway em atuação nada inspirada), que o põem a par dos acontecimentos. Nos últimos anos, a Nasa trabalhava em segredo em expedições intergaláticas, buscando um outro planeta com condições de abrigar o restante da humanidade - já que o prognóstico da Terra não estava nem um pouco favorável para a continuação da espécie humana aqui. Cabia a ele decidir se participaria dessa jornada ou se continuaria aqui para ficar com os filhos até a extinção da raça humana. Pensando no futuro dos filhos, e com a promessa de que voltaria para buscá-los, Cooper decide partir na expedição, mesmo que isso tenha magoado tanto sua amada filha. No espaço, a missão vai seguindo bem até o momento em que decisões pessoais começam a interferir nos passos seguintes da missão.
O diretor Christopher Nolan arriscou-se nesse projeto, isso não podemos negar. Acho difícil querer explicar o inexplicável, e sempre fico receosa quando vejo um cineasta tentar fazer isso porque sei que não vai agradar a quase ninguém. Nesse filme, ele tentou quantificar sentimentos e explicar cientificamente o sobrenatural e, bem, não deu muito certo. Falta empatia com os personagens, apesar do drama ser comum a todos - afinal, a sobrevivência é o instinto mais básico de cada um de nós. O ciência explicada de forma bastante esmiuçada nem incomoda tanto; os conceitos básicos de relatividade, espaço-tempo, buraco negro e buraco de minhoca são complexos mesmo e nem todo mundo é obrigado a entender tudo com facilidade - não custa nada explicar um pouco melhor para não deixar ninguém boiando. O que mais me incomodou, de verdade, foi o dramalhão desnecessário.
O filme é um embate entre razão e emoção, e a razão é extremamente científica e a emoção é piegas. Não há meio termo, e falta dinamismo durante as 3h em que acompanhamos o desenrolar da trama - o que, aliás, é um exagero de tempo para a estória. A melhor parte do filme é o terceiro quarto, quando os cientistas tem que se virar sozinhos e tomar decisões que podem custar muito mais do que a própria vida, e eles estão sozinhos no espaço, sem auxílio de ninguém - nem mesmo de dados científicos concretos. Ali, sim, o filme acontece, e a gente sente o desespero da missão e a situação terrível em que os personagens se encontram - tanto na Terra quanto no espaço. Falta mesmo ação, algo acontecer na tela. Há muitas pontas de luxo no filme, bons atores em participações pouco significantes, e atuações de atores principais aquém da capacidade deles, embora isso não seja tão prejudicial assim. Agora, o final... Esse, tá difícil de digerir.
A solução visual para o inexplicável é interessante, mas a explicação científica para ela não tem pé nem cabeça - não convence nem aos que são emoção, nem aos que são razão. Todos os pontos propostos no filme são amarrados com eficiência, mas a lógica vai pro espaço (perdoem o trocadiho de novo, eu não resisto!) aos 45min do segundo tempo. Aí você assiste ao último quarto de filme esperando alguma resposta convincente, e ela não vem - nem de forma lógica, nem de forma emotiva. O final, que deveria ser empolgante ou, pelo menos, instigante, fica morno. E a gente sai do cinema em silêncio, tentando entender o que acabou de ver - mas não de uma forma muito positiva.
O filme tem efeitos visuais lindos, e experimentar o universo em IMAX, como foi a minha experiência, foi muito bacana. Arrisco dizer que talvez seja um candidato a concorrer a prêmios na categoria, assim como em edição de som - que, aliás, dá um show à parte. Juntos, esses elementos - tela extra-grande, inagens lindas do universo e ambientação sonora perfeita - causam uma sensação de imersão nesse espaço. A pequenez humana é mostrada na tela de formas diferentes e ampliada quando experimentadas na sala de cinema com tela gigante, mas nem isso salva Interestelar de ser só ok.
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