Duas coisas chamam a atenção para O destino de Júpiter (Jupiter ascending, 2015): o nome Wachowski na direção do longa e um elenco com caras conhecidas do público. Sendo um filme de ficção científica, o primeiro já nos faz criar expectativas de uma experiência visual fantástica - afinal, poucos diretores tem em seu currículo um filme que se tornou marco na história do cinema - e o segundo dá credibilidade. Mas, tirando isso, o filme não tem muito mais a oferecer, não.
Júpiter Jones (Mila Kunis, "mandando bem") é uma empregada doméstica de origem russa, que odeia a rotina de acordar cedo e lavar banheiros de madames endinheiradas. Tudo começa a mudar quando ela decide vender seus óvulos para ganhar dinheiro: usando o nome falso de sua patroa, ela acaba por ser rastreada por seres extraterrestres e não faz ideia do por quê. Um estranho mercenário, Caine Wise (Channing Tatum, que está melhorando na atuação), responsável por rastreá-la para um poderoso magnata intergalático, tem que protegê-la dos outros caçadores que estão em seu encalço.
Como todo bom mercenário, ele não pergunta a importância do objeto/pessoa caçado, mas ele vem a descobrir a importância da garota - e ela também - somente quando eles se encontram com o antigo chefe dele. Stinger (Sean Bean, eterno Boromir - #sddsNedStark) descobre que Júpiter é, na verdade, uma representante da realeza intergalática. Aí começa a aventura do trio, os homens protegendo a garota de ataques de vários inimigos e tentando ajudá-la a resgatar seus direitos políticos.
Acontece que os maiores interessados no sumiço de Júpiter são três irmãos do mais poderoso clã das galáxias, os Abrasax. Balem (Eddie Redmayne - é, ele mesmo, o indicado ao Oscar desse ano por "Teoria de tudo"), Titus (Douglas Booth, fraquinho...) e Kalique (Tupance Middleton, insossa) são mostrados logo no início do filme disputando planetas de sua herança. Aos poucos descobrimos que cada planeta era cultivado para a colheita, onde a população era usada como matéria-prima para a fabricação de uma espécie de elixir da juventude (e esse é um argumento muito questionável). A Terra, obviamente, era um dos planetas mais valiosos e estava na parte da herança de Balem. Porém seus irmãos mais novos estavam de olho nele, uma vez que queriam ser mais ricos e poderosos que os outros. Pois bem. Júpiter, auxiliada por Caine e Stinger, acaba por conhecer cada um deles e é tentada (e ameaçada) por cada um deles. Ela acaba por conhecer as minúcias do jogo de poder em que acabou sendo envolvida e busca a reintegração de seus amigos ao exército (?) galático.
A trama tem tudo para ser interessante, mas o enredo é muito mal explorado. Nada é muito bem explicado, e é meio frustrante perceber que só a Terra é importante mesmo com todos falando que é só um mero planetinha no espaço. Os vilões Abrasax mal tem tempo de ser apresentados e ter sua chance com Júpiter, muito em parte por causa das desnecessariamente longas cenas de ação. Não me levem a mal, curto muito esse tipo de filme - mas tudo tem limite. As discussões sobre sociedade do consumo e o conceito de humanidade ficam apenas no superficial, o que é uma lástima. Algumas questões são levantadas, mas perdem espaço para os efeitos visuais e romance novelesco (que parecia até romance adolescente adaptado pro cinema).
A escalação do elenco também é bem estranha. Se, por um lado, colocar Mila Kunis e Channing Tatum (atores que já não parecem adolescentes) como o casal protagonista e Sean Bean como o contraponto do jovem e impulsivo mercenário ajuda a dar mais um peso à trama, o restante do elenco não convence - salvo o núcleo da família Jones, mas eles aparecem bem pouco na trama. Se Kunis surpreende como uma mocinha convencional (leia-se, ligeiramente inocente, mas que aprende a ser uma pessoa melhor por causa do amor ao mocinho), os vilões - inclusive os de CGI - são um dos pontos fracos do filme. Redmayne erra a mão na hora de se fazer seu vilão "mau, muito mau" e chega a ser risível em certos momentos. Os outros, então... Melhor nem comentar.
No fim das contas, o longa decepciona. São belíssimas as imagens de cidades espaciais, em especial o planeta Júpiter (principalmente em 3D Imax, o que faz as explosões ainda mais legais), mas fica a sensação de que o filme podia ser muito mais. Há certos diálogos bregas e muitos clichês mal disfarçados, e o alívio cômico não impede certos momentos de tédio. E convenhamos, tédio em filme de ação é fatal. Se vale a pipoca? Sim, até porque os efeitos especiais sejam melhores se vistos na telona. Fico no aguardo do próximo projeto dos Wachowski, esperando um conteúdo mais "Matrix" e menos "Crepúsculo".
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