Troca de Rainhas (L'échange de princesses, 2017) é um filme que trata de um trecho curioso, porém pouco conhecido - mas que tem relação direta com a nossa História, da vida do rei francês Luís XV. Este ficou posteriormente famoso por ter herdado o trono ainda criança e por amante dos estudos. Retratando o forjamento de uma aliança entre os reinos da França e da Espanha através do casamento entre herdeiros, o longa de Marc Dugain (que dirigiu o filme e co-assina o roteiro junto com Chantal Thomas - autora do livro que deu origem à produção) se vale de uma Direção de Arte e Fotografia luxuosos, além do bom desempenho das jovens atrizes escaladas para os papéis principais, para garantir a atenção do público até o fim.
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O ambicioso regente Phillipe d'Orléans (Gourmet) é quem concebe a troca |
Assim que fica órfão, o jovem príncipe Luís XV torna-se um alvo fácil para possíveis usurpadores do trono. Ao retornar ao Palácio de Versalhes, 7 anos depois, o rei ainda é um adolescente (interpretado nessa fase por Igor van Dessel) que governa sob a regência de seu tio-avô, Phillipe d'Orléans (Olivier Gourmet). Ele tem em mente um negócio rentável para si e provavelmente bom para a França: uma troca de rainhas para fortalecer a aliança entre os reinos e cessar as guerras entre os países. Assim, Luís XV se casaria com a pequena Mariana Vitória (Juliane Lepoureau, uma fofura), ainda uma menina, enquanto Louise Elisabeth (Anamaria Vartolomei), a voluntariosa filha de Phillipe, era prometida ao príncipe Luís de Espanha (Kacey Mottet Klein), futuro herdeiro do trono espanhol.
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A troca: com pompa, circunstância, luxo e as cortes de amos reinos presentes |
A troca das rainhas aconteceu com pompa e circunstância, porém os resultados não foram tão satisfatórios: enquanto o Luís francês se vê pressionado a deixar logo um herdeiro para o trono - o que seria impensável em pouco tempo, já que sua esposa estava longe de ser uma mulher em idade fértil - o Luís espanhol se apaixonara perdidamente por uma jovem teimosa e resoluta a desagradar as ordens de seu pai e à corte que a acolhera. Esse é o foco principal do enredo do filme, que mostra como crianças acabaram decidindo o futuro de dois grandes impérios.
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O rei Luís XV (Van Dessel) e Madame Ventadour (Catherine Mouchet): um rei tão jovem que ainda precisava da babá |
Pesquisando sobre o tema, a troca das rainhas realmente existiu e foi tão ricamente construído quanto inútil: a tentativa de unificar os reinados (as famílias reais de França e Espanha, à época, eram interligadas por laços de sangue e casamentos entre herdeiros - o que preocupava os outros reinos europeus com a possibilidade de um mega reino ser formado se um dos dois reis herdasse o outro trono) fracassou, pois nenhum dos casamentos se sustentou. A varíola e a necessidade de um herdeiro urgente foram os principais motivos da infelicidade de ambas, porém seus destinos foram completamente distintos. Depois de viúva, Louise Elisabeth foi devolvida à França e abandonada à própria sorte; porém Mariana Vitória veio se tornar Princesa do Brasil, anos mais tarde, ao ser casada com D. José de Bragança em mais um acordo comercial do rei da Espanha.
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Louise Elisabeth (Vartolomei): uma das vítimas da crueldade dos tratados de casamento, arranjados em nome da pátria |
Aqui vale, então, um olhar mais atento à essa fase onde a mulher era usada como moeda de troca, pouco importando seus desejos pessoais. No filme isso fica ainda mais evidente ao retratarem a pequena Mariana Vitória por volta dos seus 7 anos ao casar-se - essa foi, na verdade, a idade que ela foi devolvida aos pais. O carisma de Lepoureau e sua ingênua paixão pelo marido reforçam a crueldade de tais atitudes. Por outro lado, a rebeldia de Louise Elisabeth é compreensível, e vê-la sofrer com os mandos do pai ambicioso e depois com o esquecimento por não ser da nobreza, completamente descartável, é bastante intrigante. Mas, apesar da parte histórica apurada, o filme tem algumas falhas.
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A corte espanhola: todo falado em francês, pode confundir o espectador menos atento |
O ritmo inicial é demasiado lento, e para os que não estão acostumados com a linha de sucessão dos tronos de Espanha e França (ou seja, quase todo mundo que não é historiador), fica muito confuso entender quem é quem e quem faz o que. Ouvir as duas cortes falando francês fluente também não ajuda a diferenciar as coisas, mas aos poucos a gente se acostuma. No fim, fica a sensação de que se levou muito tempo preparando o terreno para uma grande ação, mas o grande momento passa sem muito impacto - e ao final, quando o ritmo encontra um passo mais adequado, já estamos muito perto dos créditos finais.
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A pequena rainha infanta, Mariana Vitória (Lepourdeau) conquistou o coração da corte francesa com sua inocência |
O público geral pode perder a empolgação ao lidar com esses problemas logo o início, mas, se persistir, será presenteado com uma produção luxuosíssima e boas atuações de todo elenco. O visual marcante fica mais evidenciado pela fotografia, que se inspirou em retratos clássicos dos retratados e imprime um tom de pintura renascentista por todo o longa. Troca de Rainhas é um filme interessante e merece ser visto, pois se propõe a falar de um assunto pouco explorado de um período vastamente representado no cinema e na TV. Vale a pipoca e a aula de história.
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