É assim que caminha a humanidade segundo o filme. A passos bem lentos, aliás. Mas anda. E é isso o que importa. A história de Assim caminha a humanidade (Giant, 1956) mostra bem como funciona a sociedade texana: mesmo sabendo que as suas amadas terras foram "barganhadas" com o povo mexicano, os texanos tem orgulho de ser americanos e um preconceito enorme com os imigrantes. O que vemos aqui é que o preconceito em todos os níveis: para com os mais pobres, os imigrantes, até mesmo com os compatriotas de outros estados- quem não é texano parece não ser suficientemente americano. Mas existe uma coisa ainda maior que o preconceito: o amor incondicional que dedicamos aos nossos.
É o que Leslie Lynnton (Elizabeth Taylor) descobre após casar-se com Jordan 'Bick' Bennedict (Rock Hudson). Moça do leste, acostumada a pensar por si própria, casa-se apaixonada com Bick e vai morar em Reata, sua enorme fazenda no Texas. Além da enorme casa e das milhares cabeças de gado, só há vento, terra e a triste cidadezinha de imigrantes chamada Vintecito. A fazenda era regida pela ainda mais rígida irmã de Bick, Luz (Mercedes McCambrigde), e ela tratava a todos os empregados com o devido tratamento texano. Ao chegar em local tão inóspito, Leslie logo sente que tem que tomar o seu lugar à força ou será sempre tratada como uma hóspede, uma inútil.
Espaço conquistado com delicadeza e persistência, ela se sente mais à vontade para buscar o que fazer naquela imensidão de terras. Com o pai médico, era óbvio que ela tivesse um certo pendor para cuidar dos mais necessitados, independente de eles serem imigrantes ou não. Imagine o choque de um homem, texano, ao ver que sua esposa está cuidando de doentes imigrantes. Tão rebelde quanto a jovem senhora Bennedict é o faz-tudo da fazenda, protegido de Luz Benneditc - Jett Rink (James Dean, maravilhoso). Mesmo quando lhe foi oferecido em dinheiro o dobro do valor que suas terras herdadas valiam (após a morte acidental de Luz, ela deixa para o capataz um pequeno pedaço de terra, sem muita valia para os poderosos Bennedict), ele recusa a oferta e fica com a terra. E contra todos, começa a cavar a terra e se prova certo: petróleo, o ouro negro, jorra aos baldes de sua pequenina porção de terra. E qual é a primeira coisa que este novo milionário faz? Jogar na cara do ex-patrão que agora é mais rico que ele, lógico. E dentro de terras que até pouco tempo eram dele. Óbvio que não ia dar certo. E dali em diante, eram inimigos declarados - mas com uma coisa em comum: amavam a mesma mulher.
Mesmo após terem se separado por algum tempo, para evitar o desgaste, o casal se ama muito. E não conseguem ficar muito tempo longe. O amor fala mais alto. Os anos passam, os filhos crescem e os problemas aumentam: como um filho primogênito de um grande senhor de terras pode nascer sem vontade de cuidar de vacas? Como vai querer ser médico e ainda casar com uma imigrante? Como sua tão amada filha casa-se com um homem que quer ter sua própria terra, mesmo que ela nunca vá ser ao menos parecida com a que é sua por direito? E que a outra, tão nova, esteja "de paixonite" por seu maior rival? Novamente, é o amor pelos filhos que o faz sucumbir aos seus sonhos: sim, o filho pode ser médico; a outra pode ser atriz; ele pode vender suas terras para a exploração de petróleo; ele pode brigar pelo respeito com os imigrantes, sendo seus parentes ou não. A lição que fica é essa: o amor é mais forte que qualquer outra coisa. Uma bela lição, diga-se.
Dean: simplesmente perfeito.
O filme é bem longo (são 2 dvds só de filme, fora o de extras de produção) mas não é cansativo. A produção é riquíssima, os cenários são bem construídos, as tramas são bem interligadas, os temas são bem espinhosos e muito bem desenvolvidos. Uma crítica bem mordaz, mas ao mesmo tempo suave, sutil. É bem interessante, e as personagens são ricas e lindamente interpretadas - destaque para Bick e Jett, os opostos da sociedade capitalista. Um nasceu em berço de ouro e foi criado para dar continuidade ao império, o outro mal teve oportunidades na vida, mas agarrou a que lhe pareceu com unhas e dentes e conseguiu vencer - a personificação do american dream. Até a diferença de estatura entre Hudson e Dean também parece influenciar na diferença entre os personagens. Aliás, não dá para não comentar a espetacular presença de James Dean. São poucas as suas cenas, e suas falas também não são muitas. Mas é o suficiente para roubar a cena em cada momento que aparece. A sua construção de Jett, um roceiro preconceituoso que se apaixona pela senhora rica, e que faz de tudo para ser mais rico que o rival, porém não se esforça para crescer (só enriquecer, como se isso fosse a única coisa que importasse), e que no fim acaba um lorde do petróleo, bêbado, sozinho e amargurado... É perfeito, emocionante - a melhor coisa dentro deste maravilhoso filme.
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