Gene Kelly mais carismático que nunca. Roteiro bem amarrado, cheio de conflitos e verossímil. Diálogos espertos e espirituosos. Ótimas músicas e inspiradas coreografias. Uma excelente parceira de dança, Leslie Caron. E Paris, mesmo que de mentirinha. Não tinha como Sinfonia de Paris ser um filme ruim. Enfim, depois de algumas decepções, fechamos o mês dedicado a Kelly com chave de ouro.
Muito interessante acompanhar a trajetória do americano Jerry Mulligan (Kelly), que resolveu se mudar para a capital francesa para estudar e se inspirar. Morando num muquifo e sem nenhuma perspectiva de vender seus quadros, o artista fica balançado ao receber a proposta da influente Milo Roberts (Nina Fochs), que resolve patrocinar uma exposição de seus quadros. Mas, no fundo, no fundo, ela também estava em busca de companhia. A relação entre esses dois personagens, que podia ser apenas rasa, é tão bem trabalhada que dá gosto.
A inevitável dedução de que ela daria dinheiro em troca de um amante está implícita o tempo todo, e até mencionada algumas vezes. Mas sempre nas entrelinhas e sempre com elegância. Milo fica verdadeiramente ofendida quando percebe o interesse de Jerry por Lise (Caron) e realmente tem vontade de ajudá-lo. Embora se precipite em tomar algumas decisões, como lhe dar um estúdio maior ou agendar uma exposição, ela não o transforma em objeto. Ele, por sua vez, mostra-se íntegro desde o primeiro momento e deixa claro que não quer tirar proveito da situação. Mas, bastou ter o coração partido uma vez para procurá-la. Quem está certo, quem está errado? O filme não juga. As pessoas e as situações são mais complexas do que parecem. Assim é a vida.
Por outro lado, Kelly, mais uma vez, sofre de uma paixão fulminante (roteiristas de Hollywood daquela época não sabiam ser tão sutis). E mal sabe ele que a garota de seus sonhos é comprometida com um conhecido seu. E aí, eu tenho que dar a mão a palmatória: desde o início ele nos é mostrado como um cara bacana, simpático, querido pelas criancinhas, íntegro (lembram?), sensível (é artista!) e ainda por cima tem inciativa. Digam, meninas, quem, em sã consciência, resistiria? Eu não culpo Lise.
Aliás, esse é um dos grandes méritos do filme. Dividida entre dois amores - a paixão recente pelo encantador pintor e a gratidão ao homem a quem ela deve tudo -, a enigmática personagem ganha nossa simpatia, mesmo quando brinca com os sentimentos alheios. Creio eu que, em outra situação, a tendência dos espectadores seria condená-la, mas durante todo o filme fiquei do lado dela. Lembrem-se: ele também não estava jogando limpo. E isso fica explícito quando os dois fazem um pacto de não falar nada sobre a vida um do outro quando estiverem separados.
Além da feliz estrutura narrativa e da complexidade dos personagens, o longa de Vincente Minelli nos brinda com ótimas atuações e incríveis números musicais. Gene Kelly tem espaço suficiente para brilhar, nas coreografias individuais, em dupla com Oscar Levant, com as adoráveis crianças, com Leslie Caron, delicada e graciosa na medida certa, ou na grandiosa sequência de 16 minutos que praticamente encerra o filme. Gosto particularmente daquelas que se passam no café, com vários figurantes, onde todos parecem estar se divertindo de verdade. Uma delícia de ver.
2 comentários:
Sempre que possível eu revejo este delicioso filme. Antológico!
Também entrou para minha lista de favoritos!
Obrigada pela visita e volte sempre!
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