Rever Harry Potter e a pedra filosofal é uma experiência curiosa. A começar por dar de cara com Daniel Radcliffe, Emma Watson e Rupert Grint novinhos, uma graça! Mas também por perceber que, assim como o livro, o filme é uma grande introdução à trama que iria se desenrolar dali pra frente. São muitos detalhes que precisam ser absorvidos e todo um universo a ser desvendado. Universo esse que nós, trouxas, ainda não conhecemos. Logo na primeira sequência, recebemos algumas informações importantes: aquele bebê, deixado na porta do número 4 da Rua dos Alfeneiros é alguém famoso (como pode?). E precisa estar pronto para algo importante. Grandes responsabilidades, hein? Um menino destinado à glória e ao poder. Mas a vida de Harry é justamente o oposto: vive de favor na casa dos tios, que fazem questão de lembrá-lo disso, e sofre com a implicância do insuportável primo. Não é de se admirar que ele não tenha pensado duas vezes antes de largar tudo rumo à enigmática Hogwarts.
O filme todo segue esse ritmo de deslumbramento com o mundo bruxo. Tudo é novidade, desde a plataforma 9 3/4 até Gringotes e seus duendes, passando pelos feijõezinhos de todos os sabores e os quadros vivos da Escola de Magia. O clima também é de ambientação: descobrimos já no trem que Hermione é inteligente e Rony vem de uma família humilde, o que seria motivo de humilhação para ambos. Pouco depois, na recepção, entendemos que Draco Malfoy é arrogante ao extremo e vai se tornar um oponente do trio, que se forma por acaso, mas se torna o grupo mais unido de toda a saga. Hagrid tem bom coração, mas fala demais. Seguindo essa lógica, o gago professor Quirrell é puxa-saco e medroso. Justamente dele ninguém iria suspeitar, certo? Já Snape se torna talvez o melhor personagem de J.K. Rowling por sempre causar desconfiança. Ninguém é capaz de afirmar com certeza de que lado ele está até o último minuto.
Cada volume da série tem um desafio a ser vencido pelo trio principal. Mas, em A pedra filosofal, por mais perigoso que tenha sido o caminho de Harry, Hermione e Rony até o misterioso objeto, as dificuldades eram perfeitamente contornáveis pela bravura e/ou pela inteligência dos alunos. A única cena realmente sombria é a da Floresta Proibida, em que o protagonista, pela primeira vez desde o ataque, fica frente a frente com seu maior inimigo. Criatura com apenas uma sobrevida, ele rasteja pela mata para se alimentar de sangue de unicórnio, um dos seres mais puros que existem. A (breve) cena é sinistra sim, mas não mais do que uma criança de onze anos seja capaz de suportar.
A sensação que eu tive ao rever o filme foi essa: Rowling sabia exatamente onde queria chegar, mas soube dosar o quanto poderia tornar a história mais densa de livro para livro. O longa de Chris Columbus talvez seja colorido demais, mas isso é compreensível até pelo aspecto comercial. Lembre-se de que este foi só o início de uma rentável franquia, feita não só para fãs como para leigos no tema. E o filme acaba sendo perfeito para os fãs menores e para quem está conhecendo a trama.
Algumas reduções e simplificações à parte (afinal, trata-se de uma adaptação literária, e elas são necessárias) e alguns senões nos efeitos especiais (bem fracos), o filme obviamente valoriza a magia, de modo geral, como forma de atrair o público, mas mantém alguns elementos que, mais tarde, vão se tornar importantes para a compreensão do conjunto. Um exemplo é o fato de Harry se comunicar com a cobra, logo no início. Pode parecer bobo para o espectador, mas os iniciados sabem que se trata de uma pista importante, que muitos de nós pode nem ter se dado conta quando lia o primeiro volume. Outro é o Chapéu Seletor. Segundo ele, Potter poderia ser grande na Sonserina, mas ele escolheu não ir para essa casa. E assim chegou à Grifinória. Um importante detalhe que não foi esquecido.
Acho que a única coisa que realmente me incomodou foi o fato de todos usarem o nome Voldemort o tempo todo. No livro, isso era um tabu tremendo, e isso dava ainda mais poder ao vilão. Imagine alguém cujo nome você tem medo de pronunciar! Não pode haver nada mais assustador. Por isso, e pela brevidade com que se referem a Você-Sabe-Quem no filme, creio que o espectador não tenha muita noção da importância do personagem, que, por ora, nem rosto tem. Mas, pensando bem, talvez nem Harry tivesse. Ao final, ao vermos Dumbledore dando algumas explicações para o bruxinho, conseguimos entender a revolta do rapaz alguns anos depois. O professor sabia que ele não estava pronto para saber tudo naquele momento. Nem nós. Assim como Harry, ainda éramos calouros em Hogwarts. Não fazíamos ideia do que estava nos esperando.
2 comentários:
O primeiro e o segundo eram charadinhas. Infantis, longos e sempre divertidos!
É bom revê-los! E também compartilho da sua curiosidade ao rever esse elenco juvenil tão inocentes.
Bjs.
Rodrigo
Respeito os dois primeiros por falarem às crianças, mas no fundo a gente sabe que eram mesmo para introduzir os não-iniciados nesse universo da J.K. Rowling, conseguir espectadores... Mas é sempre uma graça rever o elenco tão pequenininho :)
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