Um filme que todo mundo já ouviu falar, mas que poucos realmente viram. Um filme que ficou famoso por uma trilha sonora que, na verdade, aparece bem pouco e que acabou ligeiramente eclipsado por isso. Que os verdadeiros cinéfilos não me crucifiquem, apenas digo o que o chamado "povão" acharia. Mas Carruagens de fogo (Chariots of fire, 1981) é muito mais que isso.
Não sei bem o que esperava do filme, mas achei interessante a ideia de criar um paralelo entre fé, esporte e conduta de vida. Correndo lado a lado, elas formam a vida dos personagens principais, Libbel (Ian Charleson) e Harold Abraham (Ben Cross). Um é escocês e protestante, o outro é inglês e judeu. Ambos são obcecados pela corrida, pelo esporte. Ambos conquistaram o direito de defender a bandeira britânica nas Olimpíadas, o clímax que um velocista pode almejar.
Mais do que os obstáculos das pistas e da superação dos tempos, eles precisam superar outros empecilhos. A quem eles devem lealdade? À sua amada? À sua igreja? Ao seu rei? À sua universidade? À sua vocação? Dilemas que corroem as fibras de seus seres. Que consomem boa parte de suas energia e concentração.
Algumas falas são bonitas e poéticas, e dão aquele incômodo que só as verdades bem colocadas conseguem causar naqueles que sabem ler as entrelinhas. Algumas cenas são tão poéticas que ficam gravadas na memória, que inspiram pra vida.
Esperava um clássico,e foi o que eu vi. Talvez não tenha o ritmo alucinante a que nos acostumamos, ou rostos mais conhecidos. Provável que a maioria não vai absorver as sutilezas, ou favoritar o filme na sua lista de "os dez melhores". Mas, com certeza, é uma experiência que nos faz compreender que somos mais do que só uma coisa. Assim como em uma disputa de medalhas houve muito chão percorrido pelos atletas até chegar aquele momento; e ainda há muitos pequenos momentos e detalhes que formam o grande evento glorioso. Vontade, vocação, dedicação, treino, vitória, derrota, insistir, persistir, desistir, pressão, segunda chance, sonho, amor. A vida precisa de tudo isso pra existir.
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