Passageiros (Passengers, 2016) tinha uma ótima premissa, mas se perdeu no meio do caminho. A nave-cruzeiro Avalon está a caminho de um novo planeta-colônia, que está pronto para receber os seus 5 mil novos habitantes que estão hibernando tranquilamente a bordo da nave. Essas pessoas são, basicamente, ricaços dispostos a desbravar um novo mundo (literalmente) em busca de uma aventura - mas há também aqueles que serviriam para a instalação/manutenção do novo projeto colonial que embarcaram nessa jornada atrás de um recomeço.
É o caso de James Preston (Chris Pratt), um engenheiro mecânico. Misteriosamente, sua cápsula de hibernação se ativou muito cedo - 90 anos antes do previsto, para ser mais exata. Por mais de um ano, James tentou de tudo: contactar a base da empresa responsável pelo cruzeiro na Terra, conformar-se com o seu destino de morrer antes mesmo de chegar, chegou até a fazer amizade com a única figura minimamente humana a bordo - o interessantíssimo androide Arthur (Michael Sheen), barman do cruzeiro.
Arthhur (Sheen) serve a James (Pratt) e Aurora (Lawrence) no bar: melhor personagem |
A ponto de enlouquecer, por um acaso, descobriu a cápsula de uma linda jovem. Procurando saber mais sobre ela, descobriu que ela era Aurora Lane (Jennifer Lawrence), uma escritora de Nova Iorque. Vendo seus vídeos de apresentação, identificou-se com ela - a ponto de se apaixonar. A dúvida o corroía, seria ele capaz de suportar a solidão de tantos anos à frente ou arruinaria a vida de outro ser humano apenas para que ele não tivesse que enfrentar o resto de seus dias sozinho? Bom, já dá pra imaginar a escolha que ele fez, não é? Mas as coisas complicam mesmo quando todo o sistema entra em colapso e eles tem que lutar pela própria vida - sem ter a mínima noção do que fazer.
Olhando assim, o filme parece interessante. Como disse antes, o argumento é maravilhoso. Já imaginou o desespero que seria acordar em uma nave espacial e descobrir que é o único humano acordado - e que este despertar aconteceu muito antes do previsto? O que fazer numa situação dessas, em que não dá para voltar atrás nem fazer qualquer outra coisa? Muito material de reflexão foi desperdiçado aqui para dar lugar a um romance água-com-açúcar (descupe o spoiler, achei que ninguém iria imaginar que um envolvimento amoroso entre um casal tão bonito e atraente fosse acontecer - ironia mode on).
Metáforas lindas e intensas deram lugar a um filme de ação previsível e minimamente emocionante. Uma arca de Noé à deriva, a sensação claustrofóbica de estar preso num destino sem freio e sem volta, a asséptica visão futurista do mundo dominado por máquinas, a questão vital sobre relações humanas- tudo isso dá lugar a soluções apressadas e muito mal ajambradas (quanto mais penso nelas, mais surreais me parecem) que fazem o espectador se questionar depois de subirem os créditos. O final, aliás, me deixou com raiva: piegas até o último frame, recheado de frases de efeito à la novelas mexicanas, poderia ter algum tipo de redenção - mas nem isso.
A gravidade falhou e a piscina tornou-se mais uma ameaça |
Nem mesmo os belíssimos efeitos especiais puderam esconder essas graves falhas estruturais. As presenças de astros do calibre de Lawrence e Pratt (e a participação de Lawrence Fishbourne, em um personagem facilmente substituível por um comando eletrônico) não salvam o longa. Ok, existem cenas belíssimas (como a falta de gravidade quando Aurora está na piscina ou a caminhada no convés), mas é só. Havia potencial para ser um filme marco na história do cinema, mas se contentou em ser um blockbuster altamente esquecível. Com tamanhos elenco, orçamento e argumento em mãos, o filme merecia ser melhor.
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