A vigilante do amanhã (Ghost in the shell, 2017) é um deleite para os olhos e amantes de ficção científica. Baseado na animação japonesa de Mamoru Oshii de 1995 (que por sua vez foi inspirado no mangá de Masamune Shirow), esta vesão precisou ajustar alguns detalhes para justificar a presença de Scarlett Johansson como a protagonista Major - mas no fim, tudo fez sentido. O visual extravagante do filme futurista é de encher os olhos, e um dos pontos altos do longa.
Já no começo do filme vemos a construção de um corpo humanoide que recebe um cérebro humano recém retirado de uma jovem aparentemente resgatada de um acidente (não fica claro como ela foi parar na mesa de cirurgia). Logo percebemos que a atitude de devolvê-la à vida não é nada nobre: Cutter (Peter Ferdinando), responsável pelo projeto da Hanka Robotic, tem uma conversa nada amigável com a dra. Oulet (Juliette Binoche) e afirma que a jovem deverá ser transformada em uma arma. Após três anos desse procedimento, Mira Killian (Johansson) já é a Major, a primeira híbrida bem sucedida de máquina e humanos (mesmo em um futuro onde é comum que humanos se aperfeiçoem com enxertos mecânicos), a chefe de uma força policial que combate o ciberterrorismo.
Major (Johansson): uma ciborgue contra o ciberterrorismo |
Monitorando a cidade, ela percebe o ataque iminente ao presidente da corporação Hanka (a empresa que criou seu corpo robótico) e aciona sua equipe tática - a Seção 9. Como eles estão longe do local e não chegarão a tempo de impedir o crime, ela decide passar por cima da ordem direta do seu chefe, o senhor Aramaki (Takeshi Kitano, excelente), e agir. Apesar de ter minimizado os danos, Major não conseguiu impedir que o hacker chamado Kuze consiga informações cruciais sobre a Hanka Robotic. Intrigada com a tática brutal e sem saber quais os propósitos nem a identidade real de Kuze, Major e a equipe correm contra o tempo para rastreá-lo e impedir que ele cometa mais crimes. Porém, no intuito de resolver o crime rapidamente, Major age impulsivamente de novo - dessa vez se expondo à Kuze. Após o contato virtual, ela experimenta algumas falhas de comando. O que vem a descobrir depois mudará para sempre sua realidade.
Visual intrigante e bizarro é fascinante |
Para além do visual intrigante, o roteiro de Johnathan Herman e Jamie Moss explora a humanidade dos personagens e o dilema moral da tecnologia: até que ponto podemos ir adiante com os avanços tecnológicos sem que isso nos destrua? O dilema interno de Mira, que até aceita o novo corpo com o tempo porém sem nunca conseguir se encaixar em nenhum grupo leva a uma reflexão profunda: seria inevitável que um dia nos tornaremos meio máquina (mesmo que isso não signifique ter partes do corpo mecanizadas)? O diretor Rupert Sanders acerta em cheio ao dar equilibrar drama e ação quase ininterruptas, embora não haja tantas surpresas ou reviravoltas no roteiro - o que, aliás, não é a proposta mesmo.
A escolha acertada do elenco também ajuda na credibilidade dos personagens - e Scarlett Johansson pode até não ganhar nenhuma indicação a prêmios por essa interpretação, mas com certeza irá silenciar os haters que criticaram sua escolha para a protagonista (eles sempre existem). Confesso que até eu fiquei descrente a princípio, pois mesmo sem ter visto o longa original eu sabia se tratar de uma adaptação de animação japonesa - e a atriz não possui qualquer traço oriental. Mas, para o bem de todos, ela dá conta do recado. O incômodo de estar em um corpo que não lhe pertence fica evidente no trabalho corporal de Johansson.
Aramaki (Kitano): melhor ator em cena |
A vigilante do amanhã renova o fôlego de um gênero que vem sofrendo com muitos lançamentos mais preocupados com efeitos especiais mirabolantes do que um roteiro que tenha algo a dizer, e é um alívio ver que a ficção científica sobrevive. Se pensar que o original foi criado nos anos 1990 e está ainda mais atual, volto a ter esperança de que novos bons filmes sobre o gênero ainda estão por vir. Vale a pipoca e o ingresso mais caro do 3D (não perca os lindos efeitos visuais nessa modalidade!).
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