Acrimônia



Não se deixe enganar pela sinopse de Acrimônia (Acrimony, 2018): o filme não é o que parece – e isso não foi um elogio. A princípio, o longa de Tyler Perry (de Garota Exemplar, 2014) se propõe a contar a história de uma mulher que busca justiça de forma implacável, porém essa premissa é para disfarçar o que deveria ser uma grande reviravolta. O problema é que desde o princípio fica claro o que nos aguarda, sem haver nenhuma surpresa no caminho.

Melinda (Henson) já no tribunal: o começo do fim
A história começa com Melinda (Taraji P. Henson, em atuação bastante over) sendo condenada a uma sentença de restrição de distância e sessões de terapia para controle da raiva. E é nessa sessão obrigatória, onde é levada a narrar os acontecimentos que a levaram até ali, que mergulhamos em um longo flashback, onde ela diz que seus problemas começaram ao conhecer um jovem que viria a se tornar seu marido – e, posteriormente, seu ex. Robert (Antonio Madison quando jovem e Lyriq Bent na fase adulta) é um estudante de engenharia com um projeto revolucionário, que dedica sua vida aos estudos e se apaixona pela impetuosa jovem (nessa fase, interpretada por Ajiona Alexus) ainda na faculdade. O namoro começa com problemas, pois as irmãs mais velhas dela se opõem a ele por achar que ele só se interessa na grana que ela herdou.

Contra tudo e todos, o namoro deles continua e evolui para um casamento. Mas a vida não é o mar de rosas que eles esperavam: quando a vida começa a cobrar suas contas e a paixão dá lugar à desconfiança, a paciência se esvai mais rápido que o dinheiro. Com o relacionamento em um constante tique-taque de uma bomba-relógio prestes a explodir, basta que uma mulher reapareça na vida do casal para que o inevitável aconteça.

Robert (Bent): fica evidente que ele é a vítima
Esse é um dos maiores problemas do longa: nada do que acontece é surpresa, nem mesmo a suposta reviravolta do fim. O viés encontrado pelo diretor Tyler Perry para narrar a vida de Melinda é bastante equivocado – ele desconstrói a personagem através de uma paranóia crescente, porém a narração emocionada da protagonista ao olhar seu passado incomoda mais do que acrescenta. Pior, ajuda a criar antipatia pela personagem, que claramente não vê o passado pelo filtro correto.

A jovem Melinda é retratada como uma mulher mimada e alienada, irascível e manipulada pelas irmãs mais velhas. O marido, no entanto, é quase um santo – mesmo a tendo traído quando ainda eram namorados e tendo, por anos, usufruído do dinheiro que ela tinha para se dedicar a um projeto fracassado. O desequilíbrio entre os personagens é ressaltado inclusive pela diferença do tom de atuação de Henson e Bent: enquanto ela está caricata, assim como o estereótipo de ex-mulher louca e vingativa a que Melinda se resume, ele é tranqüilo e carismático em cena. No fim, ele é o verdadeiro herói da história – e esse suposta virada na estória jamais acontece justamente porque não há apego emocional com  a protagonista.

As mulheres da família de Melinda são extremamente controladoras: apenas estereótipos
Os clichês de gênero também são mal explorados. As mulheres da família, principalmente, são retratadas como loucas e manipuladoras, enquanto os homens são reféns delas. As irmãs são mostradas como uma única massa controladora, que têm Melinda na palma das mãos com chantagens e maledicências além de serem interesseiras e dominadoras de seus maridos; enquanto Robert sofre com a pressão das cunhadas e o desprezo da mulher que ama. O ponto fora da curva é Diana (Crystle Stewart), uma mulher de negócios que parece uma modelo de passarela – e fora do padrão “normal” das outras mulheres da trama. Totalmente desnecessário. 

Os atos, divididos por letreiros com palavras que determinam o tom da próxima etapa na descida ao inferno de Melinda, são mal distribuídos, perdendo-se muito tempo no flashback improdutivo e atropelando-se na parte final com soluções apressadas para desencadear a reação final. Acrimônia poderia ter sido um bom filme de Suspense, mas se perde ao tentar ser um Thriller Psicológico de viés estereotipado e nada inovador.

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