O Mistério do Relógio na Parede (The House with a Clock in Its Walls, 2018) é, no mínimo, curioso: não é todo dia que a gente assiste a um filme de Terror para crianças, não é? Disfarçado de filme de magia, equilibrando cenas divertidas e outras de arrepiar os pelos da nuca de alguns marmanjos, o longa de Eli Roth (ator e diretor de filme e series do gênero, também conhecido por interpretar o judeu caçador de nazistas em Bastardos Inglórios) é baseado no livro homônimo de John Bellairs e tem roteiro de Eric Kripke (roteirista e produtor do seriado Sobrenatural/Supernatural). Estrelado por Jack Black e Cate Blanchett, o longa consegue divertir e entreter o espectador do início ao fim.
O pequeno Lewis Barnavelt (Owen Vaccaro) está de mudança para a casa de seu excêntrico tio Johnathan Barnavelt (Jack Black, em atuação sem exageros) depois que seus pais morreram. Em sua mala, leva apenas dicionários - sua paixão. Ao chegar à cidade de New Zebedee, descobre que o tio tem uma fama estranha na cidade: ele mora numa casa mal-assombrada, e há rumores de que ele tenha matado alguém lá. Mas essa não é a percepção que ele tem de seu tio, ou de sua nova casa. Apesar da aparência estranha e da quantidade absurda de relógios que ele coleciona, não parece que algo sombrio como ele ouvira tivesse acontecido ali. A sra. Florence Zimmerman (Cate Blanchett, maravilhosa como sempre), vizinha de Johnathan e sua melhor amiga, também é um pouco estranha, mas com certeza era menos inconveniente que a outra vizinha, a estridente sra. Hanchett (Coleen Camp).
Tentando se encaixar nesse novo mundo, Lewis tem que encarar grandes desafios, como sobreviver ao bullying na escola por ser diferente e conquistar um amigo verdadeiro para si (como seu tio o aconselhou). Mas o misterioso tic-tac que persegue Johnathan durante as madrugadas também vai incomodar o garoto e levá-lo a descobrir um segredo de família: seu tio é um bruxo, e alguns rumores sobre a casa estavam certos. Empolgado com as novas possibilidades, Lewis vai se empenhar em aprender o que puder de magia - e desobedecer a única regra que seu tio lhe deu: abrir o misteriosos armário na biblioteca.
Jonathan (Black) e sua incessante busca pelo misterioso relógio |
Ah é. Essa cena está em um filme para crianças. Legal, não é? |
Tio Jonathan e Sra. Florence (Blanchett): jeitos diferentes de ser estranho e legal |
Quanto à produção em si, esta não podia ser mais caprichado: destaque para a direção de arte, figurino e maquiagem, que recriaram uma adorável e ligeiramente sinistra cidade americana dos anos 1950 com toques de magia. As atuações de Black e Blanchett dão o tom do filme, pois eles pareciam estar se divertindo com a oportunidade de fazer um filme de terror diferente (principalmente na troca de ofensas espirituosas entre seus personagens). Entre as crianças, destaco a pequena porém importante participação de Sunny Suljic como Tarby Carrigan, o bad boy amiguinho de Lewis, além da fofura do menino Vaccaro como o protagonista.
O jeitinho "James Dean" de Tarby (Suljic) é o contraste perfeito com a nerdice de Lewis |
Diferente de outros longas que envolvem crianças e magia, O Mistério do Relógio na Parede tem o diferencial de não explorar o encantamento com a mágica: aqui ela é uma ferramenta, que precisa ser aprendida, dominada e, também, temida. Outros representantes que misturam elementos de terror, como monstros e vampiros, tendem a representá-los de forma mais divertida - o que não acontece aqui: o perigo é real, e as consequências são sérias. Há lições sobre amizade e família também, que são passadas adiante de forma fluida e divertida enquanto acompanhamos o amadurecimento de Lewis. No fim, o longa é surpreendente pelos melhores motivos possíveis. Vale o ingresso, a pipoca e o papo com as crianças depois da sessão (se não tiver crianças para acompanhar, pode ir tranquilo com os amigos que vai ser muito divertido).
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