A Maldição da Chorona (The Curse of La Llorona, 2019) faz parte da franquia sobrenatural "A Invocação do Mal", originada no filme de mesmo título de 2013 e que comporta os spin-offs Annabelle e A Freira. Explorando estórias (baseadas em casos reais ou não) de espíritos malignos, demônios e outras coisas assustadoras, o longa de Michael Chaves foca em uma antiga lenda latina não muito conhecida por aqui: a Chorona. Em poucas linhas, ela é o fantasma choroso de uma mulher arrependida de ter afogado seus filhos e que agora vive aterrorizando crianças - e mães - por querer substituí-los com outras crianças.
Anna (Cardellini): vida difícil da personagem, boa atuação da atriz |
A assistente social Anna (Linda Cardellini) ficou viúva recentemente e enfrenta uma rotina agitada com os dois filhos, Chris (Roman Christou) e Sam (Jaynee-Lynne Kinchen), e a dedicação que o trabalho exige. Quando duas crianças, que estão sob sua supervisão, deixam de ir à escola por dois dias, Anna se dispõe a averiguar a situação. Lá, ela encontra a mãe dos meninos, Patricia (Patricia Velásquez), agindo de forma estranha e Anna desconfia que ela esteja escondendo algo. Ela encontra os filhos de Patricia e descobre que os dois apresentam ferimentos nos pulsos. Os meninos são levados em custódia para um abrigo da assistência social enquanto a investigação do caso prossegue.
Patricia (Velásquez): acusada pelo crime que tentou evitar |
Anna não entende porquê Patricia alegava estar protegendo as crianças, mas tudo muda quando os garotos aparecem mortos em um rio. Patricia acusa Anna de tê-los matado, por ter permitido que a Chorona os pegasse. Sem compreender o que aquilo significa, Anna terá que descobrir o quanto antes como se defender do espírito maligno pois a Chorona já tem novos alvos: os filhos dela.
Anna e os filhos Chris (Christou) e Sam (Kinchen): assombrados pela Chorona |
Apesar de uma boa estética e das boas atuações de Linda Cardellini e Patricia Velásquez, A Maldição da Chorona é um fiasco - principalmente se comparado à boa reputação da franquia à qual faz parte. A tentativa de trazer um componente latino como diferencial não funciona porque o roteiro é muito fraco. Há lacunas enormes sobre o comportamento humano e a criação das lendas - a sensação é de que alguém tentou resumir uma estória complexa para alguém com pressa, e desse relato nasceu o roteiro. São os pequenos detalhes que dão credibilidade à lenda e dão similaridade ao cotidiano, e há muitas incongruências aqui. Por exemplo, a rotina da mãe que não tem com quem deixar os filhos para trabalhar é uma realidade, mas ninguém jamais levaria uma criança a uma cena de crime. Outro exemplo, a lenda mexicana atravessou a fronteira (geralmente as lendas são locais; se acabam aparecendo em outro lugar, há algum motivo) e não é explicado como nem porquê. Ou seja, sem essas informações, o que o espectador tem a fazer é esperar o momento do susto - e ele é exatamente igual a todos os outros já vistos antes.
Uma das poucas causas de tensão no filme envolvem a pequena Sam e um banho de banheira |
O diferencial da trama se perde com a opção de se apoiar nos clichês da fotografia sombria e da maquiagem apavorante ao invés de usá-los a favor da estória. Os efeitos especiais, aliás, são até bons e há alguns truques de edição bem-feitos, mas falta o clima de tensão. Em momento algum o filme me causou medo ou a sensação de agonia paralisante que a impotência frente a algo maléfico/sobrenatural costuma causar, e receio que tampouco os cause nos fãs do gênero. Uma pena, pois é preciso que haja mais diversidade nas estórias contadas e ver um passo arriscado como esse (trazer ao público uma estória pouco familiar) dar errado é quase certeza de que não voltarão a insistir no tema por um bom tempo.
O curandeiro Rafael (Cruz) é a última esperança de Anna para salvar seus filhos |
Atenção a um personagem apresentado aqui: o curandeiro Rafael Olvera (Raymond Cruz) parece ser o tipo perfeito de personagem que serve de elo com as possíveis próximas sequências do universo sobrenatural criado pelo produtor James Wan. Fica clara a opção de fazê-lo o combatente do mal que o catolicismo (representado pelo Padre Perez [Tony Amendola] presente na franquia, em pequena participação aqui) e rituais de exorcismo clássicos/canônicos não são capazes de resolver. O Curandeiro pode funcionar: ele é a pitada certeira de humor sarcástico, e a aura de mistério em torno do passado do ex-padre instigam a curiosidade sobre ele - mas é preciso que haja espaço para que se destaque (e retorno financeiro nas bilheterias para que o projeto prossiga).
A Chorona (Marisol Ramirez): apenas efeitos especiais e maquiagem não a tornam assustadora |
A Maldição da Chorona é, no mínimo, mais do mesmo. Sem muitos bons sustos, sem muitas novidades, sem surpresas ou reviravoltas contundentes. Pode decepcionar os fãs do gênero e com certeza vai ficar no pé do ranking da franquia. Mas como ela própria se provou capaz de se superar e surpreender o público, expandindo, evoluindo e melhorando seus próprios subprodutos, há que se dar uma chance.
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