Sobibor (Sobibor, 2019) é uma produção russa que lança um olhar para um fato histórico pouco disseminado: o único levante bem-sucedido ocorrido em um campo de concentração da Segunda Guerra Mundial. Baseado no fato, o drama explora os últimos dias da instalação a partir da chegada de alguns personagens ao local e o encontro com alguns resistentes. O horror e a crueldade se tornam combustível para a esperança e para as medidas mais desesperadas na luta pela sobrevivência. O filme foi o candidato da Rússia na categoria Melhor Filme Estrangeiro na edição do Oscar 2019 (não chegou a ser indicado).
Pechersky (Khabensky): o ex-oficial soviético que liderou a revolta |
O que foi decisivo para que a fuga organizada por Pechersky fosse bem sucedida e as demais não? Esse parece ser o tom da narrativa, o olhar intrigado sobre esse fato. E a resposta parece simples: planejamento e organização. Apenas parece. Pechersky era um soldado sobrevivente de outra tentativa frustrada de fuga, e aprendeu com os erros - mais do que isso, aprendeu o que precisava observar para obter sucesso. E sua fama acendeu uma centelha de esperança aos que ali estavam: novas pessoas, ainda pouco castigadas/amedrontadas pela dura rotina de trabalho e punições, foram o início da operação. Ele podia organizar, mas aquelas pessoas não eram soldados, não foram treinadas para o combate. Elas só queriam uma chance de viver.
Execuções sumárias por tentativa de fuga: um dos muitos horrores mostrados no longa |
Oportunidade. A chance de pôr um plano em andamento. Era certo que, se algo desse errado, a vida de todos seria ceifada - de um jeito ou de outro. Portanto, não havia margem para a falha, e o que falhasse, tinha que ser consertado. Aqui temos o diferencial do filme: os pequenos atos de bravura que vão resultar no sucesso da operação são o cerne da narrativa. Tudo teria dado errado se uma daquelas peças não fizesse a engrenagem funcionar - e são muitas as vezes em que tudo quase foi por água abaixo. Muitos deram a vida para que a fuga acontecesse e sequer puderam atravessar o portão. Todos se arriscaram e poucos sobreviveram. É difícil, quase impossível, não se emocionar com cada drama, cada perda, cada vida ali representada.
Karl Frenzel (Lambert) à frente dos soldados nazistas: atuou em inglês, mas foi dublado em russo |
Com atuações impactantes de todo o elenco, personagens cativantes e inspiradores, embalados em uma belíssima fotografia e produção (de cenário, figurino e maquiagem), a direção segura e perspicaz de Khabensky brilha, ressaltada pela ótima edição. Sem nos poupar dos horrores nem das dores, Sobibor não faz dessa sua bandeira: o objetivo de Pechersky em vida era de que aquela vitória não fosse esquecida, que aquelas pessoas fossem lembradas - e Khabensky conseguiu transformar a história em um filme memorável. Merecia mais indicações a prêmios internacionais do que conquistou. Vale a experiência, tão triste, sufocante e enriquecedora, que só o cinema é capaz de nos trazer.
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