Um dos mais famosos romances do aclamado escritor Stephen King, Cemitério Maldito (Pet Sematery, 2019) foi escrito em 1983 e em 1989 ganhou uma adaptação para os cinemas - que se tornou um clássico do Terror. Ao completar 30 anos desta, temos uma nova versão chegando aos cinemas. Estrelado por Jason Clarke e John Lithgow, o longa de Kevin Kolsch e Dennis Widmyer homenageia o anterior enquanto atualiza o clima para o público atual, porém o roteiro de Matt Greenberg e Jeff Buhler traz algumas mudanças significativas para a trama.
A família Creed buscava um lugar mais tranquilo para viver. |
O médico Louis Creed (Clarke) acaba de se mudar com a família para o campo, deixando o ritmo estressante do trabalho na emergência do hospital de Chicago para ter mas tempo com a mulher, Rachel (Amy, Seimetz), e os filhos Ellie (Jeté Laurance) e Gage (Hugo Lavoie). Ao chegarem à nova casa, os Creed presenciam um pequeno e estranho ritual: crianças fazem uma pequena procissão para o funeral para um dos animais de estimação mortos, e todas usam máscaras de animais. O evento atiça a curiosidade da pequena Ellie e perturba Rachel, que demonstra ter um bloqueio emocional para lidar com a morte.
A pequena Ellie (Laurence) descobre o cemitério e se defronta com questões sobre a morte |
Quando Ellie sai para explorar a grande propriedade, acaba descobrindo que o cemitério de animais para onde as crianças se encaminhavam era em seu quintal. Ao se machucar em um tronco e ser ferroada por uma abelha, é socorrida pelo vizinho Jud Crandall (John Lithgow). Logo a amizade entre Jud e a família Creed se estabelece. Rachel, porém, fica muito perturbada por descobrir o cemitério tão perto de casa, e passa a ser assombrada pelo trauma do passado: a morte precoce da irmã.
Louis (Clarke) passa a ter alucinações após a morte de um paciente: avisos sobre o perigo |
Mas é quando Louis tem seu primeiro caso de verdadeira emergência no hospital que os problemas da família começam. Sem conseguir salvar o jovem Victor Pascow (Obssa Ahmed), violentamente machucado após um atropelamento, Louis tem alucinações com o jovem lhe mostrando que o lugar onde mora é perigoso. Louis, que não acredita em vida após a morte, fica bastante abalado com o ocorrido porém não quer sobrecarregar a família com suas preocupações. Em outro acidente, o gato da família, Church, é atropelado na rodovia que passa em frente à casa da família Creed. Seguindo a sugestão de Rachel (de não contar para Ellie que o gato está morto), Louis decide enterrar o animal no cemitério de animais. Mas Jud, com pena do sofrimento que causaria à sua pequena amiga, indica um outro lugar onde o gato possa ser enterrado - exatamente o local onde Victor o havia avisado a jamais ir.
Jud (Lithgow) e Louis no momento decisivo do filme: onde enterrar o gato Church? |
Nessa versão, há um claro estilo de terror mais contemporâneo (onde o suspense perde espaço para cenas mais sangrentas e sustos oportunos), porém a tensão se mantém do início ao fim. É curioso perceber que mesmo nos momentos em que a fotografia está mais clara e ensolarada ainda há aquela incômoda sensação de que há algo errado naquele lugar, e isso é um acerto. Porém, o maior acerto da produção é ter John Lithgow no papel de Jud Crandall. Sua interpretação é primorosa, dando ao personagem o equilíbrio exato entre a estranheza do velho solitário, a sutil fragilidade da velhice e o mistério de quem sabe mais do que fala. Para mim, é a melhor coisa do filme.
Atuaçãop de Lithgow como Jud Crandall faz valer o ingresso |
As mudanças cruciais foram feitas na parte final do filme, e contá-las seria estragar a experiência para o espectador. O que importa, na verdade, é que muitas funcionam - em especial o fechamento do ciclo, que completa a sequência inicial (um sobrevoo nas casas e o cemitério de animais). Algumas escolhas, porém, incomodam - especialmente o fato de terem explorado bastante as memórias de Rachel e a terrível doença de sua irmã. De fato era algo que assustaria a uma criança pequena, mas a caracterização quase a transformou em uma criatura demoníaca ao invés de uma pessoa doente. No fim, a sensação é de que se perdeu muito tempo em criar esse artifício para causar medo e desconforto e deixou-se de reforçar o laço afetivo entre Jud e a família Creed (o que faria muito mais sentido).
Explorar os medos e lembranças de Rachel e sua irmã doente foi uma escolha duvidosa |
Assim, Cemitério Maldito se torna uma experiência interessante: para os fãs do livro e da versão clássica, fica a curiosidade com as sutis mudanças; mas, no geral, o longa não deve desagradar aos fãs do gênero. Talvez não se torne memorável, mas é uma opção para ir ao cinema no fim de semana.
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